O Fruto do Espírito é Amor - Andrew Murray

 

O Fruto do Espírito é Amor

Andrew Murray

Quero analisar o facto de uma vida cheia do Espírito Santo de um ponto de vista mais prático e mostrar como essa vida se manifestará na nossa caminhada e conduta diária.

No Antigo Testamento, sabe que o Espírito Santo vinha frequentemente sobre os homens como um Espírito divino de revelação para revelar os mistérios de Deus ou para dar poder para realizar a obra de Deus. Mas Ele não habitava neles naquele tempo. Muitos desejam apenas o dom de poder do Antigo Testamento para a obra, mas conhecem muito pouco do dom do Espírito que habita em nós, do Novo Testamento, animando e renovando toda a vida. Quando Deus concede o Espírito Santo, o Seu grande objetivo é a formação de um caráter santo. É um dom de uma mente santa e de uma disposição espiritual, e o que precisamos, acima de tudo, é de dizer:

"Preciso que o Espírito Santo santifique toda a minha vida interior se quero realmente viver para a glória de Deus".

Pode dizer-se que, quando Cristo prometeu o Espírito aos discípulos, fê-lo para que tivessem poder para serem testemunhas. É verdade, mas depois receberam o Espírito Santo com tal poder e realidade celestiais que Ele tomou posse de todo o seu ser de uma só vez e os habilitou como homens santos para realizarem a obra com poder, conforme a necessidade. Cristo falou de poder aos discípulos, mas foi o Espírito que encheu todo o seu ser que operou o poder.

Gostaria agora de me deter na passagem que se encontra em Gálatas 5:22:

"O fruto do Espírito é o amor".

Lemos que "O amor é o cumprimento da lei", e o meu desejo é falar do amor como fruto do Espírito com um duplo objetivo. Um deles é que esta palavra seja um farol nos nossos corações e nos dê um teste para testar todos os nossos pensamentos sobre o Espírito Santo e toda a nossa experiência da vida santa. Vamos testar-nos por esta palavra. Tem sido este o nosso hábito diário, procurar ser cheios do Espírito Santo como o Espírito do amor? "O fruto do Espírito é o amor". Tem sido a nossa experiência que quanto mais temos do Espírito Santo, mais amorosos nos tornamos? Ao reivindicar o Espírito Santo, devemos fazer disso o primeiro objeto da nossa expectativa. O Espírito Santo vem como um Espírito de amor.

Oh, se isto fosse verdade na Igreja de Cristo, quão diferente seria o seu estado! Que Deus nos ajude a compreender esta verdade simples e celestial de que o fruto do Espírito é um amor que se manifesta na vida, e que tal como o Espírito Santo toma posse real da vida, o coração se encherá de amor real, divino e universal.

Uma das grandes causas pelas quais Deus não pode abençoar a Sua Igreja é a falta de amor. Quando o corpo está dividido, não pode haver força. Na época das suas grandes guerras religiosas, quando a Holanda se destacou tão nobremente contra a Espanha, um dos seus lemas era: "A unidade faz a força". Só quando o povo de Deus se mantém como um só corpo, um diante de Deus na comunhão do amor, uns pelos outros em profunda afeição, um diante do mundo num amor que o mundo pode ver — é só então que terão poder para assegurar a bênção que pedem a Deus. Lembre-se que se um vaso que deveria ser um todo se partir em muitos pedaços, não pode ser enchido. Pode pegar num caco de cerâmica, numa parte de um vaso, e mergulhar um pouco de água nele, mas se quiser o vaso cheio, deve estar inteiro. Isto é literalmente verdade em relação à Igreja de Cristo, e se há algo pelo qual ainda devemos orar, é isto: Senhor, funde-nos num só pelo poder do Espírito Santo; que o Espírito Santo, que no Pentecostes os tornou um só coração e uma só alma, faça a Sua obra abençoada entre nós. Louvado seja Deus, podemos amar-nos uns aos outros num amor divino, pois «o fruto do Espírito é amor». Entregai-vos ao amor, e o Espírito Santo virá; receber o Espírito, e Ele ensinar-vos-á a amar mais.

Deus é Amor

Ora, por que razão o fruto do Espírito é amor? Porque Deus é amor.

E o que significa?

É da própria natureza e do ser de Deus deleitar-Se em comunicar-Se. Deus não tem egoísmo, Deus não guarda nada para Si. A natureza de Deus é estar sempre a dar. No sol, na lua e nas estrelas, em cada flor que vê, em cada pássaro no ar, em cada peixe, no mar. Deus comunica vida às Suas criaturas. E os anjos em redor do Seu trono, os serafins e querumbins (sic), que são chamas de fogo — de onde vêm a sua glória? É porque Deus é amor, e concede-lhes o Seu brilho e a Sua bem-aventurança. E nós, Seus filhos redimidos — Deus deleita-Se em derramar o Seu amor em nós. E porquê? Porque, como disse, Deus não guarda nada para Si. Desde a eternidade, Deus teve o Seu Filho Unigénito, e o Pai deu-Lhe todas as coisas, e nada do que Deus tinha foi retido. "Deus é amor".

Um dos antigos Padres da Igreja disse que não podemos compreender melhor a Trindade senão como uma revelação do amor divino — o Pai, o Amante, a Fonte do amor; o Filho, o Amado, o Reservatório do amor, em quem o amor foi derramado; e o Espírito, o amor vivo que uniu ambos e depois transbordou para este mundo. O Espírito de Pentecostes, o Espírito do Pai e o Espírito do Filho é amor. E quando o Espírito Santo vier até nós e aos outros homens, será Ele menos um Espírito de amor do que o é em Deus? Não pode ser; Ele não pode mudar a Sua natureza. O Espírito de Deus é amor, e "o fruto do Espírito é amor".

A Humanidade Precisa de Amor

Por que razão isso acontece? Esta era a grande necessidade da humanidade, era isto que a redenção de Cristo veio realizar: restaurar o amor a este mundo.

Quando o homem pecou, ​​porque pecou? O egoísmo triunfou — procurou-se a si próprio em vez de Deus. E veja só! Adão começou imediatamente a acusar a mulher de o ter desencaminhado. O amor a Deus desapareceu, o amor ao homem perdeu-se. Vejam novamente: dos dois primeiros filhos de Adão, um torna-se assassino do seu irmão.

Não nos ensina isto que o pecado roubou o amor do mundo? Ah! Que prova tem sido a história do mundo da perda do amor! Pode ter havido belos exemplos de amor mesmo entre os pagãos, mas apenas como um pequeno remanescente do que se perdeu. Uma das piores coisas que o pecado fez ao homem foi torná-lo egoísta, pois o egoísmo não pode amar.

O Senhor Jesus Cristo desceu do Céu como Filho do amor de Deus. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigénito". O Filho de Deus veio mostrar o que é o amor, e Ele viveu uma vida de amor aqui na Terra em comunhão com os Seus discípulos, em compaixão pelos pobres e miseráveis, em amor até pelos Seus inimigos, e Ele morreu a morte do amor. E quando Ele foi para o Céu, quem enviou? O Espírito de amor, para vir e banir o egoísmo, a inveja e o orgulho, e trazer o amor de Deus aos corações dos homens. "O fruto do Espírito é o amor".

E qual foi a preparação para a promessa do Espírito Santo? Conhecem esta promessa tal como se encontra no décimo quarto capítulo do Evangelho de João. Mas lembrem-se do que precede no décimo terceiro capítulo. Antes de Cristo prometer o Espírito Santo, Ele deu um novo mandamento, e sobre esse novo mandamento disse coisas maravilhosas. Uma delas foi: "Assim como Eu vos amei, amai-vos uns aos outros".

Para eles, o Seu amor moribundo seria a única lei da sua conduta e relacionamento mútuo. Que mensagem para aqueles pescadores, para aqueles homens cheios de orgulho e egoísmo! "Aprendei a amar-vos uns aos outros", disse Cristo, "como Eu vos amei". E pela graça de Deus assim o fizeram. Quando chegou o Pentecostes, eram um só coração e uma só alma. Cristo fez isso por eles.

E agora Ele chama-nos a habitar e a andar em amor. Ele exige que, embora um homem o odeie, você ainda o ame. O verdadeiro amor não pode ser conquistado por nada no Céu ou na Terra. Quanto mais ódio há, mais o amor triunfa sobre tudo e mostra a sua verdadeira natureza. Este é o amor que Cristo ordenou aos Seus discípulos que exercessem.

Que mais disse Ele? "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros".

Todos vocês sabem o que é usar um distintivo. E Cristo disse aos Seus discípulos, com efeito: "Dou-vos um distintivo, e esse distintivo é o amor. Essa deve ser a vossa marca. É a única coisa no Céu ou na Terra pela qual os homens Me podem conhecer."

Não começamos a temer que o amor tenha fugido da Terra? Que se perguntássemos ao mundo: "Viste-nos usar o distintivo do amor?", o mundo responderia: "Não; o que ouvimos da Igreja de Cristo é que não há lugar onde não haja querelas e separações." Peçamos a Deus, com um só coração, que possamos usar o distintivo do amor de Jesus. Deus é capaz de o dar.

O Amor Vence o Egoísmo

"O fruto do Espírito é o amor". Por quê? Porque nada, além do amor, pode expulsar e vencer o nosso egoísmo.

O ego é a grande maldição, quer na sua relação com Deus, quer com os nossos semelhantes em geral, quer com os nossos irmãos cristãos, que pensam em si mesmos e procuram o que é seu. O ego é a nossa maior maldição. Mas, louvado seja Deus, Cristo veio redimir-nos do ego. Por vezes, falamos sobre a libertação da vida egoísta — e agradecemos a Deus por cada palavra que se possa dizer sobre isso para nos ajudar —, mas temo que algumas pessoas pensem que a libertação da vida egoísta significa que agora não terão mais problemas em servir a Deus; e esquecem que a libertação da vida egoísta significa ser um vaso transbordante de amor para todos durante todo o dia.

E aí está a razão pela qual muitas pessoas oram pelo poder do Espírito Santo e recebem algo, mas tão pouco! Porque oraram por poder para o trabalho e poder para bênçãos, mas não oraram por poder para a libertação completa do ego. Isto significa não só o eu justo em relação a Deus, mas também o eu pouco amoroso em relação aos homens. E há libertação. "O fruto do Espírito é amor". Trago-vos a gloriosa promessa de Cristo de que Ele é capaz de encher os nossos corações de amor.

Muitos de nós, por vezes, esforçamo-nos por amar. Tentamos obrigar-nos a amar, e não digo que isso seja errado; é melhor do que nada. Mas o fim disto é sempre muito triste. "Falho continuamente", como se deve confessar. E qual a razão? A razão é simplesmente esta: porque nunca aprenderam a crer e a aceitar a verdade de que o Espírito Santo pode derramar o amor de Deus nos seus corações. Este texto abençoado; tem sido muitas vezes limitado! - "O amor de Deus está derramado nos nossos corações". Tem sido muitas vezes entendido neste sentido: significa o amor de Deus por mim. Oh, que limitação! Isto é apenas o começo. O amor de Deus é sempre o amor de Deus na sua totalidade, na sua plenitude como um poder interior, um amor de Deus por mim que salta de volta para Ele em amor e transborda para os meus semelhantes em amor — o amor de Deus por mim, e o meu amor por Deus, e o meu amor pelos meus semelhantes. Os três são um só; não pode separá-los.

Creia que o amor de Deus pode ser derramado no seu coração e no meu para que possamos amar o dia todo.

"Ah!" dizes, "quão pouco eu percebi isso!"

Porque é que um cordeiro é sempre dócil? Porque essa é a sua natureza. Custa ao cordeiro algum esforço ser dócil? Não. Porque não? Ele é tão belo e dócil. Um cordeiro precisa de se esforçar para ser dócil? Não. Porque é que isso vem tão facilmente? É a sua natureza. E um lobo — porque não custa a um lobo esforço ser cruel e cravar as presas no pobre cordeiro ou na ovelha? Porque essa é a sua natureza. Ele não precisa de reunir coragem; A natureza do lobo está lá.

E como posso aprender a amar? Nunca, até que o Espírito de Deus encha o meu coração com o amor de Deus, e eu comece a ansiar pelo amor de Deus num sentido muito diferente daquele em que o procurei tão egoisticamente, como um conforto, uma alegria, uma felicidade e um prazer para mim mesmo; nunca, até que comece a aprender que "Deus é amor", e a reivindicá-lo e a recebê-lo como um poder interior para o auto-sacrifício; nunca, até que comece a ver que a minha glória, a minha bem-aventurança, é ser como Deus e como Cristo, abdicando de tudo em mim pelos meus semelhantes. Que Deus nos ensine isso! Oh, a divina bem-aventurança do amor com que o Espírito Santo pode encher os nossos corações! "O fruto do Espírito é amor".

O Amor é uma Dádiva de Deus

Mais uma vez pergunto: Porque é que isto tem de ser assim? E a minha resposta é: Sem isso, não podemos viver a vida diária de amor.

Quantas vezes, quando falamos sobre a vida consagrada, precisamos de falar sobre o temperamento, e algumas pessoas dizem, por vezes:

"Dá muita importância ao temperamento."

Não creio que lhe possamos dar grande importância. Pense por um momento num relógio e no significado dos seus ponteiros. Os ponteiros dizem-me o que está dentro do relógio, e se vejo que os ponteiros param, ou que apontam mal, ou que o relógio está atrasado ou adiantado, digo que algo dentro do relógio não está a funcionar corretamente. E o temperamento é exatamente como a revelação que o relógio dá do que está lá dentro. O temperamento é uma prova de que o amor de Cristo está a encher o coração ou não. Quantos há que acham mais fácil na igreja, ou em reuniões de oração, ou no trabalho para o Senhor — trabalho diligente e fervoroso — ser santo e feliz do que na vida diária com esposa, filhos e servo; É mais fácil ser santo e feliz fora de casa do que dentro dela! Onde está o amor de Deus? Em Cristo. Deus preparou para nós uma redenção maravilhosa em Cristo, e Ele anseia por fazer de nós algo sobrenatural. Aprendemos a ansiar por ele, a pedi-lo e a esperá-lo na sua plenitude?

E há também a língua! Por vezes falamos da língua quando falamos de uma vida melhor e de uma vida tranquila, mas pense na liberdade que muitos cristãos dão às suas línguas. Eles dizem:

"Tenho o direito de pensar o que quiser".

Quando falam uns dos outros, quando falam dos seus vizinhos, quando falam de outros cristãos, quantas vezes há comentários ásperos! Que Deus me livre de dizer qualquer coisa que seja pouco amorosa; que Deus me feche a boca se não falar com ternura e amor. Mas o que estou a dizer é um facto. Quantas vezes se encontram entre cristãos unidos pelo trabalho críticas severas, juízos severos, opiniões precipitadas, palavras pouco amorosas, desprezo secreto uns pelos outros, condenação secreta uns dos outros! Ah, assim como o amor de uma mãe envolve os seus filhos, se deleita neles e tem a mais terna compaixão pelas suas fraquezas ou falhas, assim também deve haver no coração de cada crente um amor maternal por cada irmão e irmã em Cristo. Você já procurou isso? Já procurou isso? Já implorou por isso? Jesus Cristo disse: "Como Eu vos amei... amai-vos uns aos outros". E Ele não o colocou entre os outros mandamentos, mas disse, na prática:

"Este é um mandamento novo, o único mandamento: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei".

É na nossa vida e conduta diária que o fruto do Espírito é o amor. Daqui advêm todas as graças e virtudes em que o amor se manifesta: alegria, paz, longanimidade, mansidão, bondade; nenhuma aspereza ou dureza no tom de voz, nenhuma crueldade ou egoísmo; mansidão diante de Deus e dos homens. Vede que todas estas são as virtudes mais gentis. Muitas vezes pensei, ao ler aquelas palavras em Colossenses: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade", que, se tivéssemos escrito, teríamos colocado em primeiro plano as virtudes masculinas, como zelo, coragem e diligência; mas precisamos de ver como as virtudes mais bondosas, mais femininas, estão especialmente ligadas à dependência do Espírito Santo. Estas são, de facto, graças celestiais. Nunca foram encontradas no mundo pagão. Cristo precisava de vir do Céu para nos ensinar. A sua bem-aventurança é longanimidade, mansidão, benignidade; a sua glória é a humildade diante de Deus. O fruto do Espírito que Ele trouxe do Céu do coração de Cristo crucificado, e que Ele dá no nosso coração, é, antes de mais, o amor.

Sabem o que diz João: "Nunca ninguém viu a Deus. Se nos amarmos uns aos outros, Deus habita em nós."

Isto é, não posso ver Deus, mas, em compensação, posso ver o meu irmão, e se eu o amo, Deus habita em mim. Isto é realmente verdade? Que não posso ver Deus, mas devo amar o meu irmão, e Deus habitará em mim? Amar o meu irmão é o caminho para a verdadeira comunhão com Deus. Sabem o que João diz ainda naquele teste solene: "Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?" (1 João 4:20).

Há um irmão, um homem extremamente desagradável. Preocupa-o toda vez que o encontra. Tem uma disposição exatamente oposta à sua. É um homem de negócios cuidadoso e precisa de lidar com ele nos seus negócios. É muito desleixado, pouco profissional. Você diz:

"Eu não posso amá-lo."

Ó, amigo, não aprendeste a lição que Cristo queria ensinar acima de tudo. Seja o homem o que quiser, deve amá-lo. O amor deve ser fruto do Espírito durante todo o dia e todos os dias. Sim, ouça! Se um homem não ama o seu irmão a quem viu — se não ama aquele homem indigno de amor que viu, como poderá amar a Deus a quem não viu? Pode enganar-se com belos pensamentos sobre amar a Deus. Deve provar o seu amor a Deus pelo seu amor ao seu irmão; este é o único padrão pelo qual Deus julgará o seu amor por Ele. Se o amor de Deus estiver no seu coração, amará o seu irmão. O fruto do Espírito é amor.

E qual é a razão pela qual o Espírito Santo de Deus não pode vir em poder? Não é possível?

Lembram-se da comparação que usei ao falar do vaso. Posso mergulhar um pouco de água num caco de cerâmica, um pedaço de vaso; mas se um vaso deve estar cheio, deve estar inteiro. E os filhos de Deus, onde quer que se reúnam, seja qual for a igreja, missão ou sociedade a que pertençam, devem amar-se intensamente, ou o Espírito de Deus não poderá realizar a Sua obra. Falamos em entristecer o Espírito de Deus com mundanismo, ritualismo, formalidade, erro e indiferença, mas, digo-vos, a única coisa acima de tudo que entristece o Espírito de Deus é esta falta de amor. Que cada coração se examine a si mesmo e peça que Deus o examine.

O Nosso Amor Demonstra o Poder de Deus

Porque nos ensinam que "o fruto do Espírito é amor"? Porque o Espírito de Deus veio tornar a nossa vida diária uma demonstração do poder divino e uma revelação do que Deus pode fazer pelos Seus filhos.

Nos capítulos dois e quatro dos Atos, lê-se que os discípulos eram um só coração e uma só alma. Durante os três anos em que caminharam com Cristo, nunca estiveram nesse espírito. Todo o ensinamento de Cristo não os podia tornar num só coração e numa só alma. Mas o Espírito Santo veio do Céu e derramou o amor de Deus nos seus corações, e eles eram um só coração e uma só alma. O mesmo Espírito Santo que trouxe o amor do Céu aos vossos corações deve encher-nos também. Nada menos do que isso bastará. Tal como Cristo fez, alguém poderia pregar o amor durante três anos com a língua de um anjo, mas isso não ensinaria ninguém a amar, a não ser que o poder do Espírito Santo viesse sobre ele para trazer o amor do Céu ao seu coração.

Pense na igreja em geral. Que divisões! Pense nos diferentes corpos. Considere a questão da santidade, considere a questão do sangue purificador, considere a questão do batismo do Espírito — que diferenças são causadas entre os queridos crentes por tais questões! Que existam diferenças de opinião não me preocupa. Não temos a mesma constituição, temperamento e mente. Mas quantas vezes o ódio, a amargura, o desprezo, a separação e a falta de amor são causados ​​pelas verdades mais sagradas da Palavra de Deus! As nossas doutrinas, os nossos credos, têm sido mais importantes do que o amor. Muitas vezes pensamos que somos valentes pela verdade e esquecemo-nos do mandamento de Deus de falar a verdade em amor. E assim foi na época da Reforma entre as igrejas luterana e calvinista. Quanta amargura havia em relação à Santa Ceia, que deveria ser o elo de união entre todos os crentes! E assim, ao longo dos séculos, as verdades mais caras de Deus tornaram-se montanhas que nos separaram.

Se queremos orar com poder, se queremos esperar que o Espírito Santo desça com poder, e se queremos de facto que Deus derrame o Seu Espírito, precisamos de firmar uma aliança com Deus para que nos amemos uns aos outros com um amor celestial.

Está pronto para isso? Só o verdadeiro amor é aquele que é suficientemente grande para acolher todos os filhos de Deus, os mais desamorosos e indignos de amor, os indignos, os insuportáveis ​​e os mais difíceis. Se o meu voto — entrega absoluta a Deus — fosse verdadeiro, então deveria significar entrega absoluta ao amor divino para me preencher; ser um servo do amor para amar cada filho de Deus que me rodeia. "O fruto do Espírito é amor".

Oh, Deus fez algo maravilhoso quando deu a Cristo, à Sua destra, o Espírito Santo para descer do coração do Pai e o Seu amor eterno. E como degradamos o Espírito Santo a um mero poder pelo qual temos de fazer a nossa obra! Deus nos perdoe! Oh, que o Espírito Santo seja honrado como um poder que nos enche da própria vida e natureza de Deus e de Cristo!

O Trabalho Cristão Requer Amor

"O fruto do Espírito é amor". Pergunto mais uma vez: Porque é que isto acontece? E a resposta vem: Este é o único poder com o qual os cristãos podem realmente realizar o seu trabalho.

Sim, é disso que precisamos. Queremos não apenas o amor que nos une uns aos outros, mas queremos um amor divino no nosso trabalho pelos perdidos que nos rodeiam. Oh, não empreendemos frequentemente uma grande quantidade de trabalho, tal como os homens empreendem trabalhos filantrópicos, movidos por um espírito natural de compaixão pelos nossos semelhantes? Não empreendemos frequentemente o trabalho cristão porque o nosso pastor ou amigo nos chama para isso? E não realizamos frequentemente o trabalho cristão com um certo zelo, mas sem termos tido um batismo de amor?

As pessoas perguntam frequentemente: "O que é o batismo de fogo?"

Já respondi mais do que uma vez: não conheço o fogo como o fogo de Deus, o fogo do amor eterno que consumiu o sacrifício no Calvário. O batismo de amor é o que a Igreja precisa, e para o obter devemos começar imediatamente a prostrar-nos diante de Deus em confissão e a implorar:

"Senhor, que o amor do Céu flua para o meu coração. Estou a entregar a minha vida para orar e viver como alguém que se entregou para que o amor eterno o habite e o preencha."

Ah, sim, se o amor de Deus estivesse nos nossos corações, que diferença faria! Há centenas de crentes que dizem:

"Trabalho para Cristo e sinto que poderia trabalhar muito mais, mas não tenho o dom. Não sei como nem por onde começar. Não sei o que posso fazer."

Irmão, irmã, peça a Deus que o baptize com o Espírito de amor, e o amor encontrará o seu caminho. O amor é um fogo que queimará todas as dificuldades. Pode ser um homem tímido e hesitante, que não sabe falar bem, mas o amor pode queimar tudo. Deus nos encha de amor! Precisamos dele para o nosso trabalho.

Leu muitas histórias comoventes de amor expresso e disse: Que lindo! Ouvi uma há pouco tempo. Uma senhora tinha sido convidada para falar num Lar de Resgate onde se encontravam várias mulheres pobres. Ao chegar lá e aproximar-se da janela com a enfermeira-chefe, viu do lado de fora um objeto miserável sentado e perguntou:

"Quem é?"

A matrona respondeu: "Ela já entrou na casa trinta ou quarenta vezes e voltava sempre. Nada se pode fazer com ela, é tão humilde e dura."

Mas a senhora disse: "Ela precisa de entrar."

A matrona disse então: "Estávamos à sua espera, e o grupo está reunido, e tem apenas uma hora para o discurso."

A senhora respondeu: "Não, isso é mais importante"; e ela saiu, onde a mulher estava sentada, e disse:

"Minha irmã, o que se passa?"

"Eu não sou tua irmã", foi a resposta.

Então a senhora colocou a mão sobre ela e disse: "Sim, sou sua irmã e amo-a"; e assim ela falou até que o coração da pobre mulher se comoveu.

A conversa durou algum tempo, e o grupo aguardava pacientemente. Finalmente, a senhora trouxe a mulher para o quarto. Ali estava a pobre criatura miserável, degradada, cheia de vergonha. Não se sentou numa cadeira, mas sentou-se num banquinho junto ao assento da oradora, e deixou-a encostar-se a si, com os braços à volta do pescoço da pobre mulher, enquanto falava ao povo reunido. E esse amor tocou o coração da mulher; tinha encontrado alguém que realmente a amava, e esse amor deu acesso ao amor de Jesus.

Louvado seja Deus! Há amor na terra nos corações dos filhos de Deus; mas oh, se houvesse mais!

Ó Deus, batiza com terno amor os nossos ministros, os nossos missionários, os nossos colportores, os nossos leitores da Bíblia, os nossos obreiros e as nossas associações de jovens. Oh, que Deus comece agora connosco e nos batize com amor celestial!

O Amor Inspira a Intercessão

Mais uma vez. Só o amor nos pode preparar para a obra de intercessão.

Eu disse que o amor nos deve preparar para a nossa obra. Sabe qual é a obra mais difícil e importante que precisa de ser feita por este mundo pecaminoso? É a obra de intercessão, a obra de ir a Deus e de dedicar tempo para se apegar a Ele.

Um homem pode ser um cristão fervoroso, um ministro fervoroso e pode fazer o bem, mas, infelizmente! Quantas vezes precisa de confessar que sabe muito pouco sobre o que é permanecer com Deus. Que Deus nos dê o grande dom de um espírito de intercessão, um espírito de oração e de súplica! Permita-me pedir-lhe, em nome de Jesus, que não deixe passar um dia sem rezar por todos os santos e por todo o povo de Deus.

Noto que há cristãos que pouco se importam com isso. Noto que existem uniões de oração onde oram pelos membros, e não por todos os crentes. Rogo-lhe que reserve tempo para orar pela Igreja de Cristo. É correcto rezar pelos pagãos, como já disse. Que Deus nos ajude a rezar mais por eles. É correto orar pelos missionários, pela obra evangelística e pelos não convertidos. Mas Paulo não disse às pessoas para orarem pelos pagãos ou pelos não convertidos. Paulo disse-lhes para orarem pelos crentes. Faça desta a sua primeira oração diária: "Senhor, abençoa os teus santos em toda a parte."

O estado da Igreja de Cristo é indescritivelmente precário. Implore pelo povo de Deus para que Ele os visite, implore uns pelos outros, implore por todos os crentes que estão a tentar trabalhar para Deus. Deixe que o amor preencha o seu coração. Peça a Cristo que o derrame novamente em si todos os dias. Procure obtê-lo em si pelo Espírito Santo de Deus: "Estou separado para o Espírito Santo, e o fruto do Espírito é amor". Deus nos ajude a compreender isso.

Que Deus nos conceda que aprendamos dia a dia a esperar mais silenciosamente n’Ele. Não esperemos em Deus apenas por nós mesmos, ou o poder para o fazer em breve se perderá; mas dediquemo-nos ao ministério e ao amor da intercessão, e oremos mais pelo povo de Deus, pelo povo de Deus que nos rodeia, pelo Espírito de amor em nós e neles, e pela obra de Deus com a qual estamos ligados; e a resposta certamente virá, e a nossa espera em Deus será uma fonte de bênçãos e poder incalculáveis. "O fruto do Espírito é amor".

Tem falta de amor para confessar diante de Deus? Então, faça confissão e diga diante dEle: "Ó Senhor, minha falta de coração, minha falta de amor — eu a confesso." E depois, ao lançar essa falta aos Seus pés, creia que o sangue o purifica, que Jesus vem no Seu poder poderoso, purificador e salvador para o libertar, e que Ele dará o Seu Espírito Santo.

"O fruto do Espírito é amor".