Frequentemente falamos do desafio que é ter tantos afazeres. Sim, todos somos pessoas ocupadas, mas, às vezes, ficamos ocupados demais! Isso em si não é o problema, pois por essas atividades como, por exemplo, cuidar dos filhos e da família, do nosso trabalho e missão, dedicar-se como voluntário e cuidar dos outros é a maneira como fazemos a diferença no mundo e encontramos alegria, satisfação e realização.
No entanto, às vezes, extrapolamos, a situação fica desequilibrada e nos sentimos sobrecarregados pela situação.
Como alguém bem explicou:
“O ritmo de vida acelerou a uma velocidade alucinante e condenatória. A tecnologia expulsou o compasso antigo da vida espiritual. A presença inequívoca da rede WiFi, de smart phones e a revolução da telefonia celular faz a vida aparentemente corrida de 20 anos atrás parecer um passeio no parque. O excesso de informação é o combustível para a mente toxicamente ocupada. A expectativa de que amigos e colegas deveriam ter acesso às nossas vidas ‘a qualquer hora, em qualquer lugar’ é algo novo e recente.”[1]
Podemos nos sentir sobrecarregados pelas situações quando aceitamos demandas ou tarefas demasiadas em nossas vidas já tão ocupadas. Isso inclui eventos como, por exemplo, uma mudança inesperada, complicações no serviço, doenças, hóspedes em casa, ou preparativos para uma folga ou férias.
Não gosto de me sentir sobrecarregado, pois é contraproducente e pode gerar muitas emoções negativas. A pessoa se sente estressada e ansiosa. Fica triste, perde as esperanças e parece estar afundando lentamente na areia movediça. Existe o sentimento de que está atrasado em tantos aspectos que jamais conseguirá ficar em dia. Coisas importantes se acumulam, deixa-se “cair a peteca”, não cumpre prazos e ocorre um sentimento geral de frustração e tensão. Nesse ponto, fazer várias coisas ao mesmo tempo parece imprescindível, a pessoa fragmenta o seu foco e abre mão dos momentos sossegados, o que a faz se sentir ainda mais sobrecarregada.
Pode parecer que tudo está numa espiral descendente fora de controle, como se você tivesse perdido o controle do seu cronograma de tarefas, prioridades e metas pessoais. Você se sente bombardeado o dia inteiro, com a necessidade de extravasar, pois sempre que vira as costas aparece outro problema, como na seguinte história:
Às vezes, sentimo-nos sobrecarregados por nossos problemas, como aconteceu com meu amigo Joe. Antes de sair para trabalhar, recebeu quatro ligações interurbanas, cada uma comunicando um problema. E todos que ligaram queriam que Joe pegasse um avião no mesmo dia para ir resolver a situação. Por fim informou à esposa que não ficaria para o café da manhã e saiu às pressas. Quando chegou à garagem descobriu que o carro não ligava. Chamou um táxi. Enquanto esperava, recebeu outra ligação comunicando mais um problema. O táxi finalmente chegou e Joe entrou correndo no banco traseiro e gritou:
— Vamos lá, vamos lá.
— Para onde? — perguntou o motorista.
— Para qualquer lugar, não importa. Tenho problemas para resolver em todos os cantos.[2]
É engraçado e ao mesmo tempo uma situação que conhecemos bem, não é?
Provavelmente todos nos identificamos com essa situação. A questão é, o quefazer a respeito. Quando começo a me sentir sobrecarregado, sei que preciso mudar algumas coisas, e quanto mais rápido, melhor. Não sou perito no assunto, e o que dá certo no meu caso pode não funcionar no seu, mas quero compartilhar algumas dicas que foram o meu salva-vidas, para você levar em consideração.
Para começar, quando esse sentimento opressor se prolonga, é importante buscar o Senhor. Primeiro passo, admito para o Senhor, para mim mesmo, e muitas vezes para Maria, que estou dividido em uma quantidade insalubre de tarefas e responsabilidades. Peço para ela orar pedindo ao Senhor soluções e paz. Depois oro para ver se o Senhor quer usar esse sentimento para eu O buscar e aprender a me apoiar mais nEle, ou se preciso mudar alguma coisa. Se Ele me mostra que preciso fazer ajustes, passo um tempo com o Senhor para receber Sua orientação. Vou para um local sossegado onde posso sentar ou caminhar, respirar, me acalmar e orar. Peço ao Senhor a Sua perspectiva. Eu me abro para o Espírito de Deus. Medito na Palavra. Fico quieto. Imediatamente, isso alivia completamente o estresse, nervosismo e ansiedade, ou pelo menos diminui bastante.
Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus.[3]
Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.[4]
Quando sinto que estou mais equilibrado com o Senhor, decido os ajustes a serem feitos na minha agenda. Muitas vezes, isso consome uma parte do meu horário de trabalho, mas de ser feito. Cada pessoa é de um jeito e precisa descobrir o que funciona no seu caso. Por exemplo, eu durmo mais. Vou para a cama mais cedo e evito ficar acordado até tarde. Faço mais exercício e me sinto revigorado física, emocional ou mentalmente.
Além disso, geralmente preciso descartar algumas tarefas na minha lista de afazeres. Isso implica em uma decisão consciente de não fazer isto ou aquilo durante um tempo, e não me preocupar ou sentir mal a respeito. Às vezes, abro mão de coisas não essenciais ou que dão tédio. Diminuir a lista de afazeres, diminuir o ritmo e simplificar as coisas ajuda a aliviar o estresse que eu próprio crio e os prazos desnecessários que me fazem sentir oprimido.
Outro segredo é pensar e falar positivamente, evitando dar vazão aos sentimentos ruins. A verbalização negativa intensifica a sensação de opressão. É como se você confirmasse para si e, às vezes, para outros, como se sente mal, que tem coisa demais para fazer, que não dá conta de tudo, que as coisas não deviam ser assim, e por aí a fora.
Richard Carlson, autor da série Don’t Sweat the Small Stuff, escreveu:
“Não estou dizendo que as pessoas não trabalham arduamente ou que o seu trabalho não é difícil e as consome. O problema é que se gabar de estar ocupado demais reforça para si o estresse e o mantém focado demais nos aspectos negativos do trabalho. É uma profecia que você profere e você mesmo cumpre, ficando refém das suas atividades.”[5]
É muito mais saudável ter uma abordagem positiva. É claro que o Senhor não nos prometeu uma vida sem dificuldades. Na verdade, quando seguimos o Senhor, nossos fardos são ordenados por Deus. O estresse, as provas e as batalhas muitas vezes incentivam uma caminhada mais próxima dEle. Mas sabemos que “não vos sobreveio tentação que não fosse humana, mas fiel e Deus, que não vos permitirá serdes tentados além do que podeis. Pelo contrário, juntamente com a tentação vos proverá o livramento, de modo que a possais suportar.”[6]
Às vezes, a solução é pedir ajudar. Quando chegar ao seu limite, pode tentar delegar trabalhos que outros possam fazer.
Fazer uma lista de oração com tudo na sua vida e na de outros que você acredita acrescentam ao sentimento de opressão pode ajudar, porque assim você pode agir de forma definida e deliberada para lançar os seus cuidados sobre o Senhor.
Por fim, tento criar um “tempo para mim” e fazer algo que vai me revigorar. Passo tempo ao ar livre, na natureza, ou me afasto um tempo do meu ambiente. Tento me afastar fisicamente de tudo o que me faz pensar no que preciso fazer ou participar, ou qualquer que seja a causa do meu estresse.
Dicas práticas ajudam, mas não devemos subestimar o aspecto espiritual. Nem sempre conseguiremos eliminar todas as causas de estresse, ou evitar nos sentirmos oprimidos pela montanha de responsabilidades, mas se estivermos realizando a vontade de Deus, Ele pode nos ajudar a administrar o estresse conforme nos apoiamos nEle, lançamos sobre Ele nossas ansiedades e nEle confiamos. É importante darmos prioridade à nossa relação com o Senhor, dedicarmos tempo à oração, meditação e reflexão, ler Sua Palavra, escrever ou ouvir Sua voz mansa e sossegada, ou Suas instruções por meio de profecia. Isso é essencial para a nossa felicidade e paz de espírito.[7]
Temos trabalho importante a realizar cada semana, além das questões urgentes e imprevistas. O desafio é entender que nem tudo é importante e urgente. Requer sabedoria e prática conseguir diferenciar entre o importante e o urgente, e aprender o que pode ser relegado sem graves consequências.
Mas acredito que existe algo ainda mais importante a ser feito, simples e profundo. E é o segredo para estar… presente quando e onde o Senhor quer. Isto vai nortear você nos dias, semanas e meses de muito trabalho.
O segredo é dar prioridade ao seu tempo de devoção cada dia.
Sabemos que a quietude é essencial para a comunhão com Deus e o crescimento espiritual. Mas nem sempre o fazemos. Como resultado, muitas vezes nos sentimos oprimidos pela pressa, pelo barulho, pelos aglomerados de pessoas, prazos e interrupções. O que mais pode aliviar esse fardo e simplificar nossas vidas é preservar e crescer no hábito de passar tempo na presença de Deus.[8]
Jesus deu sábios conselhos sobre este assunto no Evangelho segundo Lucas.
Caminhando Jesus e os Seus discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-Lhe a palavra. Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se dEle, perguntou: “Senhor, não Te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!” Respondeu o Senhor: “Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”.[9]
Certamente que manter uma vida equilibrada é um desafio constante. Mas cresceremos e seremos abençoados conforme dermos prioridade ao Senhor e à Sua Palavra, e fizermos o que podemos em termos práticos.
Footnotes:
[1] Adaptado de Making Spiritual Progress (IVP, 2014) de Allen Ratta. Copyright © 2013 Allen Ratta. Useado com permissão.
[2] John C. Maxwell, Developing the Leader Within You (Nashville: Thomas Nelson, 1993).
[3] Filipenses 4:6 NVI.
[4] 1 Pedro 5:7 NVI.
[5] Don’t Sweat the Small Stuff at Work (New York: Hyperion, 1998).
[6] 1 Coríntios 10:13 NVI.
[7] Pode ser útil recapitular a série Disciplinas Espirituais para ajudá-lo a avaliar o seu desempenho na questão de dar prioridade ao Senhor.
[8] H.B. Charles, Jr., “Interruption or Divine Appointment,” Leadership Journal, 7 de abril de 2015, acessado 12 de agosto de 2015, http://www.christianitytoday.com/le/2015/winter/interruption-or-divine-appointment.html.
[9] Lucas 10:38–42 NVI.
0 Comments:
Post a Comment