por Philip Martin
O caminho para ajudar alguém de nossa igreja com um trabalho pesado, deparei-me com um acidente que acontecera fazia instantes. Uma mulher mais velha estava deitada na rua, a uns cinco metros da faixa de pedestres, com a cabeça sangrando. Perto dela, um jovem falava freneticamente ao celular andando; falava alto para alguém que do outro lado da linha que, imagino, fosse o serviço de Emergência. Outra mulher, em pânico, chorava e gritava com uma voz estridente e aguda: "Não morra! Não morra!"
Imediatamente saltei do carro e corri para o lado da que estava no chão. Ela havia perdido muito sangue e eu não sabia se estava consciente. Tirei o lenço do bolso e com ele fiz pressão sobre o ferimento. Então encostei o rosto na testa da coitada e comecei a orar por ela baixinho e a falar calmamente, tentando tranquilizá-la. Fiquei espantado com a paz e a tranquilidade de espírito que o Senhor me deu. Em um ou dois minutos, começou a reagir.
Soube depois que o jovem era seu filho e que fora atingida na faixa de pedestre. A que chorava compulsivamente era a motorista do veículo que a havia atropelado. Acredito que ver-me reconfortar, encorajar e ministrar sua mãe ajudou o rapaz a ter clareza para relatar os detalhes da emergência à polícia. Fiquei ali até os paramédicos chegarem. O rapaz passou a cuidar a mãe e, quando me virei para sair, estendeu-me a mão para agradecer.
Não é possível "apenas seguir em frente" depois de uma experiência como esta. Ficou gravada no fundo da minha mente. Tentei colocar o que aconteceu em uma perspectiva espiritual, para ver o que Senhor teria para mim e se haveria algo além de uma manhã atribulada e uma oportunidade de ajudar alguém em necessidade.
Diante da situação, não pensara duas vezes: Deixei meu carro em marcha lenta na rua e corri para a cena do acidente. "As pessoas fazem isso por impulso" —costuma-se dizer. Mas um pensamento me ocorreu e surpreendeu: "Não! Como cristãos, essa deveria ser nossa predisposição." A natureza de Jesus, sua natureza celestial, deve nos motivar em tudo o que fazemos e dizemos. A natureza de Jesus é responder a situações de necessidades instantaneamente, sem pensar duas vezes, sem considerara autopreservação ou as possíveis consequências. Se dermos ao Senhor e ao Espírito Santo o controle de nossas vidas, para deixar Jesus viver, pensar e agir em nós, podemos ser os instrumentos pelos quais pode mostrar ao mundo como Ele e o Pai são.
Hoje, em minhas devoções matinais, li Mananciais no Deserto, Volume 2 e o versículo para o dia é: "Certamente, a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar”,[1] e o texto dizia: "Deus usa as mãos que Lhe são consagradas para tocar vidas.”[2]
Imediatamente essas palavras brilharam para mim — "mãos que Lhe são consagradas" — e pensei: As minhas mãos estão consagrados a Deus? Será que as entreguei a Ele?
Faz alguns meses, li um livro de Frances Ridley Havergal intitulado Reservada para o Uso do Mestre. A leitura não me impressionou muito na época. Não aprendi muito com ela.
Hoje, no entanto, por "coincidência" calhou de eu ler isso nas minha devoções. No livro, a Sra. Havergal trata de várias coisas mencionadas no poema de abertura e dedica um capítulo de como devemos dedicar um dom ou qualidade ao Senhor para que Ele o reserve para si. Tudo isso voltou para mim inundando minha mente com um significado novo e maior. "Devo consagrar minhas mãos ao Senhor? A propósito, isso na verdade significa que devo dedicar e conscientemente consagrar meu corpo e todo meu ser para o Senhor?"
Ansioso, abri o livro, procurando no índice para ver se havia um capítulo dedicado às mãos. E lá estava. Uau! Desta vez, meu espírito devorou cada palavra. Vou citar algumas partes aqui:
Toma minha vida; que seja
Consagrada, Senhor, a Ti.
Toma meus momentos e meus dias,
Que fluam sempre em louvores incessantes
Toma minhas mãos; que movam
Pelo impulso do Teu amor.
Toma meus pés; que sejam
Velozes e “formosos” para Ti.
Toma minha voz; que eu cante
Sempre, somente, para meu Rei.
Toma meus lábios; que se encham
De mensagens vindas de Ti.
Toma meu ouro e minha prata;
Nem um centavo quero reter para mim.
Toma meu intelecto e usa
Todas minhas faculdades conforme Tu quiseres.
Toma minha vontade e torna-a Tua;
Nunca mais será propriedade minha.
Toma meu coração; é Teu somente;
Será Teu trono real.
Toma meu amor; meu Senhor, derramo-o
Aos Teus pés, com todos seus tesouros.
Toma meu ser e serei
Sempre, somente, totalmente para Ti
Se procurarmos no Antigo Testamento, veremos que o significado literal da palavra traduzida para consagração é "encher a mão". Se nossas mãos estiverem cheias de outras coisas, não poderão ser preenchidos com as coisas de Jesus Cristo. É preciso que sejam esvaziadas antes, para que possam ser verdadeiramente preenchidas. Então, se com tristeza virmos que nossas mãos não foram reservadas para Jesus, comecemos humildemente por Lhe pedir para esvaziá-las completamente, para que Ele as encha inteiramente.
Já alguma vez Lhe pedimos com simplicidade e sinceridade, para reservar nossas mãos para o Seu uso?
Isso significa que devemos sempre fazer algum trabalho claramente "religioso", como dizem? Não. Significa que tudo que fizermos deve, com toda a certeza, ser feito sempre por Ele. Há uma grande diferença. Se as mãos estiverem de fato se movendo no impulso do Seu amor, os mais simples deveres e atos serão transfigurados em serviço sagrado para o Senhor.
Então, hoje foi um começo. No silêncio do meu quarto, orei: “Toma minhas mãos; que movam pelo impulso do teu amor.”
[1] Isaias 59:1.
[2] Mrs. Charles Cowman, Mananciais no Deserto, Volume 2, 5 de setembro (Zondervan, 1997).
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