A importância deste tema se justifica
pela forma como o pecado afeta a vida de todo ser humano e faz com que os
humanos se separem de Deus. Felizmente, em Seu amor e misericórdia, Ele tornou
possível que a humanidade fosse salva do pecado pelo sofrimento e morte de
Jesus.
Rufus M. Jones faz a seguinte
argumentação a respeito do pecado:
O pecado não é um dogma abstrato. Não é
uma dívida com alguém que se possa pagar ou simplesmente cancelar. O pecado é
um fato nas nossas vidas. É uma condição do coração e da vontade. Não há pecado
separado do pecador. Onde existe o pecado, há um desvio consciente de uma
norma, uma falha da natureza e produz um efeito sobre toda a personalidade. Ao
pecar, a pessoa desobedece a um senso de retidão. Ela cai para uma posição abaixo
do que se entende ser o bem. Vê um caminho, mas não segue por ele. Ouve uma
voz, mas a recusa em vez de aquiescer a ela. O pecador está consciente de um eu
superior que o chama, mas permite que o inferior prevaleça. Nenhuma outra
descrição do pecado se compara à poderosa narrativa que o Apóstolo Paulo fez,
ao retratar sua própria experiência, na Carta aos Romanos 7:9–25. O que nos
envolve emocionalmente nessa leitura é que encontramos a descrição de nosso
próprio estado. Uma natureza inferior nos domina e prejudica nossa vida. “Não
faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.”[1]
A
palavra hebraica mais comum usada no Antigo Testamento translitera-se
como chata, que significa “não atingir a meta;
afastar-se do caminho do bem e do dever; errar o alvo; desviar-se do caminho.”
O Antigo Testamento também usa palavras que querem dizer rompimento (como
quando se rompe um acordo), transgressão da vontade de Deus, rebelião e
perder-se.
O Novo Testamento recorre a diversas
palavras para falar do pecado. Estas se traduzem como violação, transgressão,
infração, errar o alvo, ultrapassar limites, ficar pelo caminho, fracassar,
praticar o mal, desviar-se do bem, afastar-se, desviar-se da verdade e da
justiça, falta de integridade no coração e na vida, desrespeito à lei,
impiedade, descrença, desobediência rebelde e apostasia.
Seguem algumas definições de pecado,
propostas por diferentes teólogos:
O pecado pode ser definido como um ato
pessoal de afastar-se de Deus e da Sua vontade. É a violação da Lei de Deus […]
a violação do mandamento de Deus. É o distanciamento daquilo que é a vontade de
Deus expressa.[2]
O pecado é qualquer falha que
caracterize uma não conformidade com a lei moral de Deus em ação, atitude ou
natureza.[3]
Deus expressou Sua vontade e lei moral
pela Bíblia. Contudo, houve um tempo em que a Bíblia não existia. Há também
muitos que não ouviram falar dela, não a leram ou não sabem que ela contém a
verdade sobre Deus e a Sua vontade. Entretanto, em toda a história, o
conhecimento da lei moral de Deus sempre foi, até certo ponto, inerente ao ser
humano, pois Ele a escreveu no coração de cada pessoa.
“Quando
os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não
tendo eles lei, para si mesmos são lei. Eles mostram a obra da lei escrita em
seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus
pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os.”[4]
Ainda
que muitas pessoas desconheçam especificamente as leis morais de Deus expressas
nas Escrituras, todos têm um entendimento básico de que é errado matar, roubar,
mentir, etc. É o que muitas vezes se chama lei natural ou lei moral, a qual
está contida nos Dez Mandamentos.[5]
Como os humanos têm o conhecimento
intuitivo da lei moral, possuem um senso do que é certo e do que é errado, de
responsabilidade moral. A consciência “testifica”. A existência da lei moral de
Deus e Sua vontade, como expressa a Bíblia, do conhecimento intuitivo da lei
moral e da consciência que testifica quando uma lei moral é violada, significa
que todos os humanos —quer conheçam as Escrituras, quer não— têm consciência de
que não vivem em conformidade com a lei moral ou se desviam dela e, portanto,
sabem que erram.
O
primeiro pecado
Quando Adão foi avisado para não comer
da árvore do conhecimento do bem e do mal, Deus não lhe deu uma razão
específica para a restrição, apenas que haveria sérias consequências. Adão
estava em posição de mostrar sua disposição para obedecer às ordens de Deus e
submeter sua vontade à do seu Criador. Pode ser visto como um teste para
determinar se o primeiro homem deixaria Deus definir o que era o certo ou se
tomaria para si essa incumbência.
A primeira desobediência de Adão e Eva
mostra a essência do pecado. Resistiram à vontade de Deus e se recusaram a se
subordinar a ela, mas escolheram o que parecia lhes trazer mais vantagem. Não
escolheram o que Deus definira como o melhor para eles.
Louis Berkhof explica essa questão da
seguinte forma:
A essência desse pecado reside no fato
de Adão se colocar em oposição a Deus, de se recusar a sujeitar sua vontade à
de Deus ao não aceitar que Ele determinasse o curso de sua vida. Além disso,
tentou ativamente excluir Deus da posição de determinante para, assim, ele próprio
decidir seu futuro.[6]
Em
vez de aceitarem que Deus era o Criador e, por isso, eram Seus subordinados,
cederam à tentação de assumir Sua função. Deus os advertiu que se comessem da
árvore certamente morreriam. A serpente garantiu que isso não aconteceria. Deus
lhes falou a verdade, mas eles rejeitaram Sua palavra. Questionaram quem estaria certo.
As decisões de Adão e Eva de não se
subordinarem a Deus, de não aceitarem Suas determinações no que diz respeito ao
que é certo e de não acreditarem nEle são emblemáticas da causa raiz dos
pecados específicos de indivíduos ao longo da história da humanidade. Todo ser
humano é tentado a pecar da mesma forma como os dois primeiros foram, e cedem a
essa tentação. Ao fazer isso, cada um de nós age em relação a Deus da mesma
maneira que Adão e Eva agiram.
Antes desse primeiro pecado, Adão e Eva
viviam em harmonia com seu Criador. Desfrutavam de Sua companhia, confiavam e
acreditavam nEle. Sua decisão arbitrária de desobedecer a Deus mudou isso, não
apenas para eles, mas para toda a humanidade. Esse pecado resultou na queda do
homem e, desde então, a humanidade nunca mais foi a mesma.
A humanidade é culpada do pecado diante
de Deus devido ao fato de o pecado de Adão e Eva ser imputado a todos, e aos
nossos próprios pecados pessoais. Por sermos pecadores, estamos separados de
Deus, morremos fisicamente e permanecemos culpados diante dEle, merecedores de
castigo pelos nossos pecados.
Deus, em Seu amor pela humanidade, criou
uma forma para os humanos serem perdoados, se reconciliarem com Ele e serem
poupados de Sua ira.
“Como
por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. […] Pois se pela ofensa
de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da
graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim
como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para condenação,
assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens, para
justificação e vida. Pois como pela desobediência de um só homem, muitos foram
feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.”[7]
Ser reconciliado com Deus por Jesus, ser
perdoado por nossos pecados, ser redimido é o maior presente que alguém pode
receber—um presente pessoal diretamente da mão de Deus. Isso não apenas muda
nossas vidas hoje, mas por toda a eternidade. É uma dádiva que cada um de nós
recebeu, e que nos foi pedido para transmitirmos a outros. São as boas novas
que fomos incumbidos de divulgar, para que outros também possam ser libertados
das garras do pecado e se tornarem filhos do Deus eterno, amoroso, gracioso e
misericordioso.
Publicado originalmente em setembro de 2012. Adaptado
e republicado em maio de 2020.
[1] Rufus M. Jones, The
Double Search—Studies in Atonement and Prayer (Philadelphia:
John C. Winston Co., 1906), 60–61.
[2] J. Rodman Williams, Renewal Theology, Systematic
Theology from a Charismatic Perspective, Vol. 1 (Grand Rapids:
Zondervan, 1996), 222.
[3] Wayne Grudem, Systematic Theology, An
Introduction to Biblical Doctrine (Grand Rapids: InterVarsity
Press, 2000), 490.
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