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O Código Da Vinci não deve ser ignorado como enredo de ficção. Sua premissa, de que Jesus Cristo tenha sido reinventado com objetivos políticos, ataca as próprias bases do cristianismo. O autor, Dan Brown, declarou em rede nacional que, mesmo que o enredo seja ficção, ele acredita que suas considerações sobre a identidade de Jesus sejam verdadeiras. Então, o que é verdade? Vamos dar uma olhada.
• Jesus teve um casamento secreto com Maria Madalena?
• A divindade de Jesus foi inventada por Constantino e a Igreja?
• Os registros originais de Jesus foram destruídos?
• Manuscritos recentemente descobertos contam a verdade sobre Jesus?
Uma gigantesca conspiração resultou na reinvenção de Jesus? De acordo com o livro e filme O Código Da Vinci, isto é exatamente o que aconteceu. Muitas das afirmações do livro sobre Jesus sugerem conspiração. Por exemplo, o livro declara:
“Ninguém está dizendo que Cristo foi um trapaceiro, ou negando que viveu neste mundo e inspirou milhões de pessoas a terem uma vida melhor. Tudo o que dizemos é que Constantino se aproveitou das suas substanciais influência e importância. E, ao fazê-lo, modelou a face do cristianismo tal como hoje o conhecemos.”[1]
Será que esta surpreendente afirmação do livro mais vendido de Dan Brown é verdadeira? Ou será que a premissa por trás faz somente parte de um bom livro de conspiração—similar à crença de que alienígenas fizeram um pouso forçado em Roswell no Novo México ou que havia um segundo atirador em Grassy Knoll em Dallas quando JFK foi assassinado? De qualquer maneira, a história é bastante convincente. Não surpreende que o livro de Brown tenha se tornado uma das histórias mais vendidas da década.
A Conspiração de Jesus
O Código Da Vinci começa com o assassinato de um curador de museu francês chamado Jacques Sauniere. Um professor intelectual de Harvard e uma bela criptologista francesa são contratados para decifrar uma mensagem deixada pelo curador antes de sua morte. A mensagem acaba por revelar a mais profunda conspiração da história da humanidade: a mensagem verdadeira de Jesus Cristo sendo encoberta pelo braço secreto da Igreja Católica Romana chamado Opus Dei.
Antes de sua morte, o curador tinha evidência que poderia contestar a divindade de Cristo. Apesar (de acordo com o enredo) a Igreja ter tentado por séculos esconder as evidências, os grandes pensadores e artistas deixaram pistas por todos os lados: em pinturas como a Mona Lisa e A Última Ceia de Da Vinci, nas arquiteturas das catedrais e mesmo em desenhos da Disney. Os principais argumentos do livro são:
• O imperador romano Constantino conspirou para divinizar Jesus Cristo.
• Constantino selecionou pessoalmente os livros no Novo Testamento.
• Os Evangelhos Gnósticos foram banidos para subjugar as mulheres.
• Jesus e Maria Madalena casaram-se em segredo e tiveram um filho.
• Milhares de documentos secretos refutam pontos-chave do cristianismo.
Brown revela sua conspiração através do especialista fictício do livro, o historiador real britânico Sir Leigh Teabing. Apresentado como um senhor sábio e erudito, Teabing revela à criptologista Sophie Neveu que no Concílio de Niceia em 325 d.c. “muitos aspectos do cristianismo foram debatidos e votados”, incluindo a divindade de Jesus.
“Até aquele momento,” ele diz, “Jesus era visto por seus seguidores como um profeta mortal… um grande e poderoso homem, mas ainda um homem.”
Neveu fica chocada. “Não como filho de Deus?” ela pergunta.
Teabing explica: “A constituição de Jesus como ‘filho de Deus’ foi proposta e votada oficialmente no Concílio de Niceia.”
“Espere. Você está dizendo que a divindade de Jesus foi o resultado de uma votação?”
“E uma votação relativamente pequena,” Teabing conta à surpresa criptologista.[2]
Então, de acordo com Teabing, Jesus não era considerado Deus até o Concílio de Niceia em 325 d. c., quando os reais registros de Jesus teriam sido banidos ou destruídos. Desta maneira, de acordo com a teoria, toda a fundação do cristianismo baseia-se em uma mentira.
O Código Da Vinci vendeu muito bem sua história, tirando de seus leitores comentários como “se não fosse verdade não teria sido publicado!” Outro disse “nunca mais piso em uma igreja”. Um crítico do livro parabenizou-o por seu “impecável trabalho de pesquisa”.[3] Muito convincente para um trabalho de ficção.
Vamos aceitar por enquanto que a proposta de Teabing pode ser verdade. Por que, neste caso, o Concílio de Niceia decidiu promover Jesus à divindade?
“Foi tudo pelo poder,” continua Teabing. “A criação de Cristo como o Messias era fundamental para o funcionamento da Igreja e do Estado. Muitos intelectuais afirmam que a Igreja primitiva literalmente roubou Jesus de seus seguidores originais, desviando sua mensagem humana e envolvendo-a em uma aura impenetrável de divindade, usando-a para expandir seu próprio poder.”[4]
De muitas maneiras, O Código Da Vinci é a teoria da conspiração definitiva. Se as afirmações de Brown estão corretas, então sempre fomos cercados de mentiras—pela Igreja, pela História e pela Bíblia. E até mesmo pelos que mais confiamos: nossos pais ou professores. E tudo isso for pela tomada do poder.
Apesar de O Código Da Vinci ser uma obra de ficção, ele baseia muitos de suas premissas em eventos (o Concílio de Niceia), pessoas (Constantino e Ário) e documentos (os Evangelhos Gnósticos) reais. Se chegássemos ao fundo da conspiração, nosso objetivo deve ser separar os fatos da ficção nas denúncias de Brown.
Constantino e o Cristianismo
Nos séculos anteriores ao reinado de Constantino sobre o Império Romano, os cristãos foram arduamente perseguidos. Então, em meio a batalhas, Constantino relatou ter visto uma imagem brilhante de uma cruz no céu descrevendo as palavras “Por este sinal conquistarás”. Ele marchou para a batalha sob o sinal da cruz e tomou posse do império.
A aparente conversão de Constantino ao cristianismo foi um divisor de águas na história da Igreja. Roma tornou-se um império cristão. Pela primeira vez em quase 300 anos era considerado seguro, e mesmo bom, ser cristão.
Os cristãos não eram mais perseguidos por sua fé. Constantino buscou então unificar os Impérios Oriental e Ocidental, que tinham sido divididos por cismas, sectos e cultos, centralizando-se principalmente sobre a questão da identidade de Jesus Cristo.
Esses são alguns dos cernes de verdade do O Código Da Vinci, e cernes de verdade são uma condição para qualquer teoria da conspiração de sucesso. Porém, o enredo do livro transforma Constantino em um conspirador. Vamos abordar essa questão chave levantada na teoria de Brown: Constantino inventou a doutrina cristã da divindade de Jesus?
Endeusamento de Jesus
Para responder às acusações de Brown, precisamos primeiramente determinar o que os cristãos em geral acreditavam antes de Constantino conclamar Concílio em Niceia.
Os cristãos já idolatravam Jesus como Deus desde o primeiro século. Porém, no quarto século, um líder da igreja oriental, Ário, iniciou uma campanha para advogar sobre a unidade de Deus. Sua doutrina era de que Jesus era um ser especialmente criado, maior que os anjos, mas não era Deus. Atanásio e a maioria dos líderes da igreja, por outro lado, estavam convencidos de que Jesus era Deus em carne e osso.
Constantino queria resolver a disputa, desejando trazer paz ao império com a unificação das divisões oriental e ocidental. Desta maneira, em 325 d. c., ele conclamou mais de 300 bispos em Niceia (agora parte da Turquia) por todo o mundo cristão. A questão crucial é, a igreja primitiva pensava que Jesus era o Criador ou apenas uma criação—filho de Deus ou de um carpinteiro? Qual a doutrina dos apóstolos sobre Jesus? Desde os primeiros registros ele é considerado Deus. Após 30 anos depois da morte e ressurreição de Jesus, Paulo escreveu aos filipenses que Jesus era Deus em forma humana (Filipenses 2:6-7, NLT). E João, uma testemunha ocular, confirmou a divindade de Jesus na seguinte passagem:
No princípio era o Verbo. E o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por ele. E sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós (João 1: 1-4, 14, NLT).
Esta passagem de João 1 foi descoberta em um manuscrito antigo e sua verificação de carbono é datada de 175 a 225 d. c. Desta maneira, Jesus foi chamado de Deus mais de cem anos antes de Constantino conclamar o Concílio de Niceia. Podemos ver agora que a evidência forense do manuscrito contradiz a declaração d’O Código Da Vinci de que a divindade de Jesus foi uma invenção do quarto século. Mas o que a História conta sobre o Concílio de Niceia? Brown afirma no livro, através de Teabing, que a maioria dos bispos ignorava a crença de Ário que Jesus era um “profeta mortal” e adotaram a doutrina da divindade de Jesus por uma “votação pequena”. Verdadeiro ou falso?
Na realidade, a votação foi uma maioria esmagadora: somente dois dos 318 bispos discordaram. Mesmo que Ário acreditasse que somente o Pai era Deus e que Jesus era sua criação suprema, o concílio concluiu que Jesus e o Pai possuíam a mesma essência divina.
Pai, filho e o espírito santo foram considerados entidades diferentes e coexistentes, mas um único Deus. A doutrina de um Deus em três entidades ficou conhecida como Credo Niceno, e é o núcleo central da fé cristã. É verdade que Ário foi convincente e que teve influência considerável. A votação esmagadora ocorreu após um debate considerável. Porém, no fim o concílio declarou esmagadoramente Ário como herege por seus ensinamentos contradizerem com as doutrinas dos apóstolos sobre a divindade de Jesus.
A história também confirma que Jesus tolerou publicamente a idolatria recebida de seus discípulos. E, como vimos, Paulo e outros apóstolos ensinavam claramente que Jesus era Deus e digno de idolatria.
Desde os primeiros dias da Igreja cristã, Jesus foi considerado muito mais do que um mero homem e a maioria dos seus seguidores o idolatrava como Senhor criador do universo. Então, como pode Constantino ter inventado a doutrina da divindade de Jesus se a igreja já o considerava como Deus por mais de 200 anos? O Código Da Vinci não aborda essa questão.
Atacando o Cânone
O Código Da Vinci também afirma que Constantino ocultou todos os documentos sobre Jesus, além dos encontrados no cânone do Novo Testamento (reconhecido pela igreja como os relatos do testemunho autêntico dos apóstolos). Ele declara também que os relatos do Novo Testamento foram alterados por Constantino e pelos bispos para reinventar Jesus. Outro elemento-chave da conspiração do O Código Da Vinci é que os quatro Evangelhos do Novo Testamento foram selecionados dentre um total de “mais de 80 evangelhos”, que em sua maioria foram escondidos por Constantino.[5]
Existem duas questões centrais aqui, e abordaremos ambas. A primeira é se Constantino alterou ou selecionou de maneira tendenciosa os livros do Novo Testamento. A segunda é se ele baniu documentos que deveriam ter sido incluídos na Bíblia.
Com relação à primeira questão, cartas e documentos escritos por líderes da igreja e hereges do século dois confirmam o amplo uso dos livros do Novo Testamento. Certa de 200 anos antes de Constantino conclamar o Concílio de Niceia, o herege Marcião listou 11 dos 27 livros do Novo Testamento como escritos autênticos dos apóstolos.
Por volta da mesma época, outro herege, Valentino, faz menção a uma ampla variedade de temas do Novo Testamento e suas passagens. Visto que esses dois hereges eram adversários da liderança da igreja primitiva, eles não estavam escrevendo somente o que os bispos queriam. Mesmo assim, como a igreja primitiva, eles mencionaram os mesmos livros do Novo Testamento que lemos hoje.
Assim, se o Novo Testamento já era amplamente usado 200 anos antes de Constantino e do Concílio de Niceia, como poderia o imperador tê-lo inventado ou alterado? Naquele tempo a igreja já havia se espalhado e abrangia centenas de milhares se não milhões de crentes, e todos conheciam os relatos do Novo Testamento.
No livro A fraude do Código Da Vinci, uma análise do O Código Da Vinci, o Dr. Erwin Lutzer comenta:
“Constantino não decidiu quais livros estariam no cânone; de fato, o tópico do cânone nem mesmo foi mencionado no Concílio de Niceia. Na época que a igreja primitiva lia um cânone de livros, eles já haviam sido determinados como a palavra de Deus anos antes”.[6]
Apesar do cânone oficial ainda levar anos para ser finalizado, o Novo Testamento de hoje foi considerado autêntico mais de dois anos antes de Niceia.
Isto nos leva à segunda questão, o porquê desses misteriosos evangelhos gnósticos terem sido destruídos e excluídos do Novo Testamento? No livro, Teabing afirma que os escritos Gnósticos foram eliminados das 50 Bíblias encomendadas por Constantino no concílio. Ele conta animadamente a Neveu:
“Devido ao fato de que a elevação do status de Jesus por Constantino se deu quase quatro séculos após a morte desse, já existiam milhares de documentos que contavam sua vida como homem mortal. Para reescrever os livros de história, Constantino sabia que precisaria de um golpe ousado. Disto surgiu um dos momentos mais profundos da história cristã. … Constantino encomendou e financiou uma nova Bíblia, que omitiu esses evangelhos que falavam dos traços humanos de Cristo e adornou os que o tornavam divino. Os primeiros evangelhos foram proscritos, recolhidos e queimados.”[7]
Seriam esses escritos gnósticos a real história de Jesus Cristo? Vamos olhar com mais detalhes para ver se conseguimos separar a verdade da ficção.
“Conhecedores” Secretos
Os evangelhos gnósticos foram atribuídos a um grupo conhecido como (para nossa surpresa) os Gnósticos. Seu nome vem da palavra grega gnosis que significa “conhecimento”. Essas pessoas pensavam ter conhecimentos secretos e especiais, ocultos das pessoas comuns.
Dos 52 escritos, apenas cinco foram realmente listados como evangelhos. Como veremos mais adiante, esses supostos evangelhos são claramente diferentes dos do Novo Testamento como Mateus, Marcos, Lucas e João.
Com a propagação do cristianismo, os Gnósticos combinaram algumas doutrinas e elementos do cristianismo com suas próprias crenças, transformando o Gnosticismo em uma simulação. Talvez tenham feito isto para aumentar o número de fiéis e tornar Jesus um garoto-propaganda para sua causa. Contudo, para que sua linha de pensamento fosse compatível com o cristianismo, Jesus precisava ser reinventado, retirando sua humanidade e sua divindade absoluta.
Em A História do Cristianismo de Oxford, John McManners escreveu sobre a mistura de cristianismo e crenças míticas dos gnósticos.
“O gnosticismo foi (e ainda é) uma teosofia com muitos ingredientes. Ocultismo e misticismo oriental combinam-se com astrologia e mágica.
Eles integram os ensinamentos de Jesus e acomodam-nos em sua própria interpretação (como no Evangelho de Tomás), oferecendo aos seus membros uma forma alternativa ou rival de cristianismo.”[8]
Primeiros Críticos
Ao contrário das afirmações de Brown, não foi Constantino que considerou as crenças gnósticas como heréticas, e sim os próprios apóstolos. Uma pequena linha filosófica já crescia no primeiro século, apenas décadas depois da morte de Jesus. Os apóstolos, em seus ensinamentos e escritos, condenaram fortemente essas crenças como opostas à verdade de Jesus, de quem foram testemunha.
Veja, por exemplo, o que o apóstolo João escreveu perto do fim do primeiro século:
“Quem é o mentiroso? Senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho.” (1 João 2:22)
Seguindo os ensinamentos dos apóstolos, os líderes da igreja primitiva condenam unanimemente os gnósticos como um culto. O padre Ireneu, escrevendo 140 anos antes do Concílio de Niceia, confirmou que os gnósticos eram condenados pela igreja como hereges. Ele também rejeitou seus “evangelhos”. Entretanto, com relação aos quatro evangelhos do Novo Testamento, ele diz: “Não é possível que os evangelhos sejam em quantidade maior o menor do que são”.[9]
O teólogo cristão Orígenes escreveu no início do terceiro século mais de cem anos antes de Niceia:
Conheço um certo evangelho chamado “O Evangelho segundo Tomás” e um “Evangelho segundo Matias” e muitos outros que li, já que não devemos ser considerados de nenhuma maneira ignorante pelos que imaginam ter algum conhecimento sobre esses. Contudo, dentre todos esses aprovamos somente os reconhecidos pela igreja, que são os únicos quatro evangelhos que devem ser aceitos.[10]
Aqui temos as palavras de um líder da igreja altamente considerado. Os gnósticos foram reconhecidos como um culto não-cristão muito antes do Concílio de Niceia. Mas existem ainda mais evidências que respondem as questões feitas no O Código Da Vinci.
Quem é sexista?
Brown sugere que um dos motivos do suposto banimento dos escritos gnósticos por Constantino tenha sido o desejo de reprimir as mulheres na igreja. Ironicamente, é o Evangelho Gnóstico de Tomás que rebaixa as mulheres. Ele conclui (supostamente citando Pedro) com esta surpreendente declaração: “Deixe Maria ir para longe de nós, pois as mulheres não são dignas da vida” [11]. Depois Jesus supostamente diz a Pedro que transformará Maria em um homem para que ela possa entrar no reino dos céus. Leia: mulheres são inferiores. Com sentimentos como esse à mostra, é difícil conceber que os escritos gnósticos tenham sido um grito de guerra da liberação feminina.
Em forte contraste, o Jesus dos evangelhos bíblicos sempre tratou as mulheres com dignidade e respeito. Versos revolucionários como este encontrados no Novo Testamento foram fundamentais para as tentativas de elevação do status da mulher:
“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea. Porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28, NLT).
Autores Misteriosos
Com relação aos evangelhos gnósticos, cada livro leva o nome de uma personagem do Novo Testamento: O Evangelho de Filipe, o Evangelho de Pedro, o Evangelho de Maria, o Evangelho de Judas e assim em diante. (Parece uma lista de chamada de escola.) São nesses livros que teorias da conspiração como O Código Da Vinci se baseiam. Mas será que eles foram mesmo escritos por seus supostos autores?
Os evangelhos gnósticos são datados de 110 a 300 anos depois de Cristo e nenhum acadêmico crível acredita que algum deles poderia ter sido escrito por seus homônimos. No abrangente A Biblioteca de Nag Hammadi de James M. Robinson, descobrimos que os evangelhos gnósticos foram escritos por “autores desconhecidos e independentes”.[12] Dr. Darrell L. Bock, professor de estudos do Novo Testamento no Seminário Teológico de Dallas, escreveu:
“A maior parte deste material está afastado por algumas gerações das bases da fé cristã, um ponto vital a se lembrar ao avaliar seu conteúdo.”[13]
O estudioso do Novo Testamento Norman Geisler comentou dois escritos gnósticos, o Evangelho de Pedro e os Atos de João. (Esses escritos gnósticos não devem ser confundidos com os livros do Novo Testamento escrito por João e Pedro):
“Os escritos gnósticos não foram escritos pelos apóstolos, mas por homens do século dois (ou posterior) com intenções de usar a autoridade apostólica para divulgar seus próprios ensinos. Nos dias de hoje chamamos isto de fraude e falsificação.”[14]
Os evangelhos gnósticos não são relatos históricos da vida de Jesus, mas sim declarações esotéricas, envoltas em mistério, que deixam de fora detalhes históricos como nomes, locais e eventos. Este é um contraste marcante com os evangelhos do Novo Testamento que contém diversos fatos históricos sobre a vida, ministério e palavras de Jesus.
Senhora Jesus
A melhor parte da conspiração Da Vinci é a afirmação de que Jesus e Maria Madalena casaram-se secretamente e tiveram um filho, perpetuando sua linhagem. Além disso, o ventre de Maria Madalena, carregando a prole de Jesus, é representado no livro como o lendário Santo Graal, um segredo mantido pela organização católica chamada o Priorado de Sião. Sir Isaac Newton, Botticelli, Victor Hugo e Leonardo Da Vinci foram citados como seus membros.
Romance. Escândalo. Intriga. Ótimos para uma teoria da conspiração. Mas será que é verdade? Vejamos o que dizem os estudiosos.
Um artigo da revista Newsweek, que resumiu a opinião geral dos estudiosos, conclui que a teoria de que Jesus e Maria Madalena casaram-se secretamente não possui embasamento histórico.[15] A proposta colocada no O Código Da Vinci é construída sobre um único verso do Evangelho de Filipe que indica que Jesus e Maria eram companheiros. No livro, Teabring tenta construir a hipótese de que a palavra para companheiro (koimonos) poderia significar esposa. Porém, a teoria de Teabing não é aceita pelos estudiosos.
Há também um único verso do Evangelho de Filipe que menciona que Jesus beijou Maria. Saudar amigos com um beijo era comum no século um e não possuía nenhuma conotação sexual. Porém, mesmo se a interpretação de O Código Da Vinci estivesse correta, não existem documentos históricos que confirmem esta teoria. E visto que o Evangelho de Filipe é um documento forjado escrito de 150 a 220 anos depois de Cristo por um autor desconhecido, suas declarações sobre Jesus não são historicamente confiáveis.
Talvez os gnósticos sentiram que o Novo Testamento possuía pouco romance e decidiram apimentá-lo um pouco mais. Qualquer seja a razão, o verso obscuro e isolado escrito dois séculos depois de Cristo não é muito para se basear toda uma conspiração. Uma leitura interessante talvez, mas definitivamente não histórica.
Com o Santo Graal e o Priorado de Sião, o relato fictício de Brown mais uma vez distorce a história. O lendário Santo Graal foi supostamente a taça que Jesus usou na última ceia e não teve nenhuma relação com Maria Madalena. E Leonardo da Vinci nunca poderia ter conhecido o Priorado de Sião, visto que este só foi fundado em 1956, 437 anos após sua morte. Novamente, uma ficção interessante, mas historicamente inexato.
Os Documentos “Secretos”
Mas e sobre a declaração de Teabing que “milhares de documentos secretos” provam que o cristianismo é uma farsa? Será que é verdade?
Se houvesse tais documentos, os estudiosos que se opõem à igreja estariam de mãos cheias. Escritos fraudulentos que foram rejeitados pela igreja primitiva por suas visões hereges não eram secretos, sendo conhecidos por séculos. Isto não é nenhuma surpresa. Eles nunca foram considerados parte dos escritos autênticos dos apóstolos.
E se Brown (Teabing) está se referindo aos evangelhos apócrifos ou da infância, os problemas são mais uma vez revelados. Eles não são secretos, não provam nem refutam o cristianismo. O estudioso do Novo Testamento Raymond Brown comenta sobre os evangelhos gnósticos:
“Não conhecemos nenhum novo fato verificável sobre o ministério de Jesus, apenas algumas novas declarações que podem ter sido dele”.[18]
Diferente nos evangelhos gnósticos, cujos autores são desconhecidos e não foram testemunhas, o Novo Testamento que temos hoje passou por inúmeros testes de autenticidade. (Clique para ler Jesus.doc) O contraste é devastador para os que apoiam as teorias da conspiração. O historiador do Novo Testamento F. F. Bruce escreveu:
“Não há obra de literatura antiga no mundo que goza de tamanha riqueza de comprovação textual do que o Novo Testamento”.[19]
O estudioso do Novo Testamento Bruce Metzger revelou porque o Evangelho de Tomás não foi aceito pela igreja primitiva:
“Não é correto dizer que o Evangelho de Tomás foi excluído por alguma ordem por parte de um concílio: a maneira certa de dizer é que o Evangelho de Tomás excluiu a si mesmo! Ele não combina com os outros testemunhos sobre Jesus que os primeiros cristãos aceitaram como confiável”.[17]
Veredito Histórico
Assim, o que podemos concluir com relação às diversas teorias da conspiração sobre Jesus Cristo? Karen King, professor de história eclesiástica da Harvard, escreveu vários livros sobre os evangelhos gnósticos, incluindo o Evangelho de Maria de Magdala e O que é gnosticismo? King, embora seja um forte defensor dos ensinamentos gnósticos, conclui que “Essas noções sobre teoria da conspiração… são ideias marginais que não possuem embasamento histórico”.[20]
Apesar da falta de evidências históricas, as teorias da conspiração ainda vendem milhões de livros e atingem níveis recorde nas bilheterias. Estudiosos em campos relacionados, alguns cristãos e alguns sem nenhuma fé refutaram as declarações do O Código Da Vinci. Entretanto os que se deixam levar facilmente ainda se perguntam: será que é mesmo verdade?
O jornalista de televisão ganhador de prêmios Frank Sesno perguntou a um júri de estudiosos sobre a fascinação que as pessoas têm com teorias da conspiração. O professor Stanley Kutler da Universidade de Wisconsin respondeu que “todos amamos mistérios, mas amamos muito mais as conspirações”.[21]
Então, se quiser ler sobre uma grande teoria da conspiração sobre Jesus, a novela de Dan Brown O Código Da Vinci pode ser o que você procura. Mas se quiser ler sobre os relatos verdadeiros de Jesus Cristo, então Mateus, Marcos, Lucas e João o levarão ao que as testemunhas viram, ouviram e escreveram. No que você prefere acreditar?
http://y-jesus.org/portuguese/wwrj/2-conspiracao-da-vinci/10/
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