Imagine um homem em uma trilha na montanha varrida pelo vento. Os ramos da figueira curvando-se sob o peso da neve. Não é senda para amadores. É Ãngreme, rochosa e há penhascos e barrancos traiçoeiros no caminho. Quando a neve amaina um pouco, descortina-se o céu cinza e nublado. O caminho não está demarcado e ele viaja sem um guia, por isso tem que confiar na sua vista e na intuição.
Ele avança, ciente que o mais difÃcil ainda está por vir. Ainda haverá aclives mais acentuados e momentos de visibilidade ainda mais reduzida, assim como trechos em que terá que usar o equipamento de alpinismo para se agarrar à montanha. Neste momento já é necessário toda a coragem que possui para perseverar. Seus músculos doem e o vento queima o seu rosto. O vento provoca lágrimas e as força pelo canto dos olhos para, nas bochechas, se converterem em contas de gelo. Perdeu o tato nas mãos, mas não lhe faltam coragem e tenacidade. Uma tremenda compulsão de atingir o cume o instiga. São obstáculos que não o podem deter, e ele persiste.
Mas chega um momento em que a força lhe foge e ele começa a vacilar. Chegou ao limite de corpo e espÃrito e, no seu Ãntimo, pergunta-se se conseguirá chegar ao fim.
Mas é então que, por entre as árvores, vê uma luz bruxuleante. Aproxima-se um pouco mais e, no meio de uma clareira, vê uma cabana que parece um alojamento para viajantes. É feita de troncos, com um telhado bastante inclinado e uma extensão bem larga, muito acolhedora.
É provável que lá encontre algo quente para beber — café, chá, chocolate ou, quem sabe, conhaque — pensa.
A fumaça saindo da chaminé revela que a lareira está acesa. O viajante se aproxima e vê o brilho do fogo por um espaço entre as cortinas da janela. Ouve o som do riso das pessoas que comem e bebem. Logo as vê. Está tão quentinho lá dentro que elas nem usam jaquetas. A cabana é como uma ilha de calor, de alegria e de encorajamento no meio da neve.
Faz uma pausa para observar os viajantes lá dentro, sendo aquecidos, revigorados, fortalecidos e descansando para prosseguirem a sua jornada. Os pensamentos tomam sua mente: Talvez troquem entre si informações sobre o que lhes aguarda, indicações de como chegar ao fim do caminho. Quem sabe, como eu, alguns estejam aqui pela primeira vez, mas talvez haja outros tarimbados, que conheçam os perigos e riscos da trilha, que aconselham os novatos sobre a rota mais segura e rápida.
E há comida lá dentro: boa, farta e nutritiva. Há tanto que sente fome, que mal tem na memória a sensação de prazer de uma refeição quente. Vem mordiscando lanches no caminho porque não queria parar e preparar algo mais substancial.
Deve haver acomodações para hóspedes onde possa cochilar ou, talvez, pernoitar. O lugar parece ser exatamente o que um viajante exausto precisa. As vozes felizes o atraem para dentro. Um pouco de convÃvio e a chance de trocar experiências, reanimar-se e aprender dos demais viajantes em nada atrapalhariam.
Mesmo assim, analisa a cabana e pesa os benefÃcios oferecidos. Pensa e pondera: “É preciso manter o ritmo. É verdade que meus músculos doem, a fome é grande, não sinto mais os pés e as mãos, e o frio é cortante. Mas parar? Isso cabe aos fracos e desistentes. Hei de conseguir. Melhor é encontrar o caminho por conta própria. Com certeza muito maior será a glória”.
Baixinho, uma voz vinda de dentro sugere: “E se não encontrar? E se virar na direção errada? E se sofrer um acidente por desconhecer os pontos perigosos? E se lhe fugirem por completo as forças?” Mas ele ignora a sugestão Ãntima de parar e de se recuperar na cabana.
Força-se adiante, embrenhando-se na floresta escura, indo contra a tempestade, galgando a montanha ameaçadora. “Melhor é estar só” — pensa consigo, firme na sua decisão de chegar ao fim da jornada.
E nunca mais se tem notÃcia desse viajante.
Ainda que seja difÃcil imaginar alguém agindo assim, é precisamente o que muitos de nós fazemos, no espÃrito, diante de grandes desafios, quando repousar nos braços de Jesus faria toda a diferença. Ainda que, à s vezes, a gratificante estrada da vida se apresente difÃcil e perigosa, Ele nos deu tudo que precisamos para trilhá-la: Sua Palavra, oração, comunhão com Ele e a camaradagem entre outros cristãos. Mesmo assim, muitos tentam seguir viagem por conta própria. Se parássemos para um descanso espiritual, encontrarÃamos alimento para nossas almas, terÃamos comunhão com Jesus e, através da Sua Palavra e de oração, soluções para os nossos problemas. E poderÃamos receber orientação daqueles que já conhecem o caminho.
Por que então ignorar tal ajuda e seguir só? Será o orgulho o nosso maior adversário? Será que, em parte, não queremos admitir nossa incapacidade e que precisamos de Jesus, da orientação da Sua Palavra e da ajuda de nossos companheiros cristãos?
E assim seguimos penosamente, e como as dificuldades são grandes!
Jesus não pode abrandar o aclive nem a trilha, mas pode facilitar a sua jornada. Esses abrigos para repouso com Ele ao longo do caminho alegram a jornada, pois você sabe que obterá a força para encarar os desafios que venha a enfrentar.
Escute Sua voz falando-lhe ao coração: “Não gostaria de parar na Minha cabana e saborear Comigo uma xÃcara de reconforto? Aqueça-se junto à lareira da Minha Palavra. Aprenda com a experiência daqueles que já trilharam o caminho. Descanse nas minhas camas confortáveis antes de seguir caminho. Quando chegar ao cume, se regozijará com a vista de tirar o fôlego, e beberá dos lagos cristalinos da montanha. Depois, poderá voltar e contar a outros como também chegar lá.”
Originalmente publicado em abril de 2001. Republicado em janeiro de 2012.
Tradução Tiago Sant’Ana. Revisão Denise Oliveira.TFI
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