O que Deus revelou a outros foi registrado para nosso conhecimento. … Deus falou por meio da Sua Palavra e por ela continua Se comunicando. A essência da questão éconhecer a Deus. Ele Se revela na palavra proferida por Ele próprio e por intermédio dos Seus mensageiros. Deus Se revela na Sua relação com o ser humano. Todo incidente e experiência nessas páginas refletem Deus, oferecendo-nos uma imagem dEle.
A questão é estudar a Bíblia não só como um Livro divino, para conhecer a Deus. O objetivo não é o Livro em si, mas o Deus que ele revela. Se por um lado um curso superior de teologia e palestras sobre a Bíblia na língua inglesa contribuirão para a expansão do conhecimento e enriquecimento do vocabulário do indivíduo, por outro ele poderá desenvolver conceitos totalmente errôneos sobre Deus. É possível cursar Direito e estudar as leis do primeiro grande jurista sem contudo obter uma visão nítida e entendimento do significado das Leis Mosaicas, como é necessário para uma boa base de conhecimento jurídico – e continuar ignorante dos assuntos pertinentes a Deus.
O indivíduo pode até frequentar um seminário bíblico e conseguir analisar, sintetizar e escrever resenhas de livros, capítulos e outras tarefas relacionadas a esse valioso e indispensável tipo de conhecimento, mas não entender Deus e o Seu maravilhoso amor e vontade. A questão não é apenas o Livro, mas o Deus que ele revela. Não é tomar conhecimento da verdade, mas por meio dela conhecer a Deus que é o cerne da verdade.
Conta-se uma história fascinante sobre um dos valentes de Davi.[1] Certo dia, na ausência dos valorosos soldados, o acampamento israelita foi subitamente atacado pelos filisteus, o inimigo “de sempre”. Só a palavra “filisteus” já infligia terror no coração dos hebreus. Mas este homem foi considerado um dos três maiores valentes de Davi por causa da sua atitude naquele dia. Sem alarde, ele desembainhou a espada e enfrentou o inimigo sozinho. Golpes para o alto, para baixo, para a esquerda e direita, quadril e pernas ele golpeou com tanta força e fervor que o inimigo fugiu. E, segundo o relato, os músculos da sua mão ficarão tão rijos na espada, que ele não conseguia distinguir pelo tato o que era a sua mão ou espada. O valente e a espada se fundiram naquele dia em que ele atuou a serviço da nação, contra o inimigo do seu povo.
Quando assimilarmos este Livro e o Espírito dAquele que lhe dá vida a ponto de as pessoas não perceberem a diferença entre homem e Deus no homem, conquistaremos poder para interceder e derrotar o inimigo. Deus e o homem se fundirão atuando a serviço do Seu povo e contra o inimigo.
Ofereço aqui algumas simples sugestões para o estudo deste Livro de maneira a se chegar a Deus por meio dele.
O primeiro elemento é o tempo. É preciso passar tempo todos os dias quando está com a cabeça fresca, pois a mente cansada tem dificuldade em absorver. Deve-se persistir até criar o hábito de dedicar um tempo... todos os dias em contato com o Livro, desligando-se de tudo o mais no espírito, para poder absorvê-lo.
Depois é preciso dedicar tempo ao Livro em si. A consulta ou leitura de qualquer outro livro, como há de acontecer, deve ocorrer após a leitura do Livro. Deixe Deus falar com você diretamente, em vez de através de outra pessoa. Ofereça a Ele a primeira oportunidade de falar com você. Este Livro deve ser o foco na sua mesa, e os outros livros devem estar em segundo plano. Dedique tempo primeiramente a ele.
Esta terceira sugestão fecha o círculo. Leia em oração. Aprendemos a orar por meio da leitura em oração. Este Livro não revela sua doçura e força apenas para a mente aguçada, mas para a mente iluminada pelo Espírito. Para liberar o conhecimento que ele contém é preciso ler com agudez mental e também com o fulgor da luz do Espírito. -- Essa é a palavra mágica para destravá-lo. Já cheguei a procurar um estudioso que pudesse explicar a cultura oriental, que tivesse conhecimento filológico, conhecesse as traduções exatas e coisas assim, para entender o significado de uma passagem. No entanto, a pessoa desconhecia o sentido espiritual das palavras em questão. E já fiz a mesma pergunta a um caro seguidor de Deus que não sabia a diferença entre hebraico e um garrancho, mas tinha sensibilidade suficiente para entender a profunda verdade espiritual ali revelada. Quanto mais conhecimento, mais aguçado o raciocínio, mas ainda melhor se o pensamento for iluminado pelo Espírito que inspirou o que foi escrito.
Ofereço ainda uma quarta palavra, que é a leitura com reflexão. O ato de refletir está se perdendo. Existe uma quantidade enorme de jornais, literatura em abundância, mas não existem muitas pessoas que reflitam na leitura. Muitas vezes existe abertura e bastante espaço, mas pouca profundidade. Combata a atitude superficial. Insista na leitura com reflexão. “Meditar” no que lê, esse é o termo tão sugestivo usado na Bíblia.
Veja todos os sentidos implícitos… pode significar remoer, como no caso de remoer um pensamento. Existe também a palavra ruminar, que não é uma muito usada nesse sentido hoje em dia. A vaca é um animal ruminante porque fica mastigando o alimento por horas. E posteriormente ela nos oferece o saudável leite, a nata, a manteiga, tudo como consequência da sua alimentação. Essa é a palavra: ruminar. Mastigue o alimento por bastante tempo para poder produzir leite e manteiga de ótima qualidade.
É notável perceber que este Livro de Deus pode ser mastigado vezes sem conta, muito mais do que outros livros. É possível mastigar por um tempo uma obra de Tennyson, Browning, ou Longfellow. Eu não estou menosprezando essas grandes obras. Alguns desses autores são meus favoritos. Mas eles não produzem o leite e a manteiga de ótima qualidade que o Livro de Deus produz na nossa vida. Este Livro já passou por isso muito mais do que qualquer outra obra, mas até hoje ele oferece novidades. É possível ler uma passagem duzentas vezes e absorver um novo sentido, algo que nunca imaginamos.
E quero oferecer a quinta sugestão, que é mais fácil dar do que seguir. Leia com obediência. Conforme a verdade mexer com a sua consciência, permita que modifique seus hábitos e estilo de vida.
Trechos de Quiet Talks on Prayer, de Samuel Dickey Gordon (Fleming H. Revell, 1904). Publicado no Âncora em agosto 2013. Tradução Hebe Rondon Flandoli.
[1] 2 Samuel 23:9–10.
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