Quem são os reis do Sul e do Norte em Profecia Bíblica? Parte 1

 

 Dennis Edwards

  Introdução: As profecias no final de Daniel 11 são passadas ou futuras?

 Acabo de ouvir outro programa de Profecia do Tempo do Fim explicando quem poderiam ser o Rei do Sul e o Rei do Norte na profecia bíblica. Muitos especialistas tentaram interpretar esses eventos, embora geralmente de um ponto de vista pró-israelita. Vamos visitar as Escrituras e tentar colocar os nossos preconceitos de lado por um momento e ver se Deus nos dará o entendimento a fim de podermos manejar corretamente a Sua Palavra da Verdade.

Primeiro, veremos Mateus 24 e as próprias palavras de Jesus.

 Mateus 24:15 “Quando, pois, virdes a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, estais no lugar santo (quem lê, que entenda :) Pois então haverá grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, não, nem nunca será. E a menos que aqueles dias sejam abreviados, nenhuma carne será salva: mas por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados. ”

 O próprio Jesus nos diz que as profecias de Daniel são importantes para a compreensão das futuras profecias bíblicas. Jesus menciona “a abominação da desolação”. Onde encontramos nas Escrituras de Daniel a frase ou algo semelhante a "a abominação da desolação?" Nós o encontramos em dois lugares, em Daniel 9:27 e Daniel 11:31.

Daniel 9:27 “E ele firmará um concerto com muitos por uma semana: e no meio da semana ele fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares, e sobre a asa das  abominações virá o assolador, e isso até a consumação, e o que está determinado será derramado sobre o assolador. "

Daniel 11:31 “E sairao de sua parte tropas, que profanarão o santuário e a fortaleza, e tirarão o contínuo sacrifício, estabelecendo a abominação desoladora.”

 Essas profecias já não foram cumpridas?

 Alguns estudiosos da Bíblia afirmam que as referências à “abominação desoladora” em Daniel foram cumpridas antes da época de Cristo por Antíoco Epifânio (175 - 164 A.C.). Se for assim, por que e que o próprio Jesus daria a colocação da “ abominação da desolação” como um sinal a observar antes de Seu retorno no futuro? Isso não parece fazer sentido.

 Outros dizem que a colocação da “ abominação da desolação” se refere à invasão de Jerusalém em 70 D.C. pelo general romano Tito e foi nessa época que o Templo em Jerusalém foi feito uma abominação e destruído pelos romanos e por Deus. “Não ficará aqui pedra sobre pedra”, como Jesus havia profetizado. Portanto, existem várias opiniões sobre o assunto. Mas a questão permanece : porque é que Jesus quis dizer que a colocação da "abominação da desolação" no Templo seria o sinal do início da "grande tribulação" que seria seguida por Sua vinda nas nuvens para Seus filhos e seguido então pelo julgamento dos ímpios, se não fosse esse o caso?

 Alguns consideram que a “grande tribulação” falada por Jesus no Evangelho de Mateus foi a invasão romana e a destruição de Jerusalém em 70 DC. Nessa altura, cerca de um milhão de judeus foram crucificados pelas forças de Tito registado pelo historiador judeu Josefo em seu “ “Antiguidades dos Judeus. ” Mas o problema com a interpretação que coloca esses eventos no passado é a própria predição de Jesus. Jesus parece associar a colocação da “abominação da desolação” e da “grande tribulação” que se segue juntamente com o evento futuro de Sua vinda, o que ainda não aconteceu. Portanto, tanto Antíoco Epifânio, ou o Louco Epifânio, como era chamado, quanto o general romano Tito foram apenas cumprimentos parciais dessas profecias. Vamos ler o Evangelho de Mateus.

 Mateus 24: 29 “Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e os poderes dos céus serão abalados: E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu: e então todas as tribos da terra prantearão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará seus anjos com grande som de uma trombeta, e eles reunirão seus eleitos desde os quatro ventos, de uma extremidade do céu à outra. ”

 

Que evento o próprio Jesus associa às profecias de Daniel?

 Qual é o evento que Jesus menciona no mesmo sermão em que ele é citado usando as palavras da profecia de Daniel sobre a "abominação da desolação?" Que evento segue a grande tribulação de acordo com as Escrituras? Não é outro senão o Seu retorno miraculoso nos céus para arrebatar os Seus eleitos e então julgar os ímpios. Claramente isso não ocorreu em 70 DC. Portanto, podemos apenas concluir que, embora Antíoco Epifânio (175 - 164 AC) e Tito (70 DC) tenham sido  cumprimentos parciais de algumas dessas profecias, eles não eram o cumprimento final para o qual devemos ainda esperar. Alguns estudiosos chegaram à conclusão de que o Anticristo que reinará pouco antes do retorno de Cristo será o cumprimento final das profecias sobre "a abominação da desolação".

Alguns dirão que a interpretação das Escrituras da maneira acima foi exposta pela primeira vez por um padre jesuíta e que, portanto, é falsa. No entanto, as interpretações não devem aumentar ou diminuir em sua fonte, mas sim em seus próprios méritos se verdadeiras ou falsas. A História da Ciência está repleta de padres e monges católicos que tiveram tempo para investigar e fazer experiências  científicas em busca das verdades da natureza. Não era incomum ver os monges como estudiosos genuínos. 

Mas os detratores alegarão que a interpretação que estamos oferecendo foi originada durante o período da Reforma, em outras palavras, por volta de 1500 DC. Foi nessa altura que a Igreja Católica foi considerada por alguns dos reformadores como o cumprimento de algumas das palavras proféticas da Bíblia. Portanto, a Igreja precisava desenvolver uma escatologia que tornasse o cumprimento da Escritura futurista e não algo presente. 

No entanto, uma teoria não é aceite por causa da motivação do teórico, mas pela validade da teoria, quão bem ela explica os dados que estão sendo examinados. Com isso em mente, examinemos a  nossa interpretação proposta para ver se ela se alinha com as outras profecias e se apresenta como um argumento coerente e entrelaçado em favor da sua verdade. Se for apenas uma fabricação falsa, deve facilmente se desmoronar. Se for verdade, devemos ser capazes de fazer um bom caso para isso, sem suposições de suporte arbitrárias.

 Pode ser bom olharmos para o que os Padres da Igreja escreveram sobre a Profecia Bíblica e o Anticristo antes do período da Reforma. As suas opiniões sobre esses eventos podem nos ajudar em nosso pensamento e lançar alguma luz sobre o assunto em questão. Portanto, vamos começar a nossa investigação com as opiniões dos primeiros Padres da Igreja que precederam a Reforma.

Qual foi a opinião dos Pais da Igreja sobre as profecias sobre o Anticristo? 

Justino Martir

 O primeiro Pai da Igreja que veremos é Justino Mártir, que viveu de 100 a 165 DC. Justino nasceu em Samaria em uma família gentia-pagã. Ele buscou a verdade nos filósofos gregos e romanos. Um dia ele encontrou um homem cristão que compartilhou com ele a sabedoria dos profetas de Deus e suas profecias sobre Cristo. Justino havia estudado muito a filosofia e ainda não estava satisfeito com as suas conclusões. Ele se convenceu de que o testemunho dos profetas era mais certo do que o raciocínio dos filósofos. Como resultado, ele se decidiu por Cristo e se dedicou a viajar por todo o país divulgando o conhecimento do Cristianismo como a verdadeira filosofia. Ele formou uma escola em Roma e escreveu cartas ao Senado e ao imperador romano, Antonino, para abandonar a perseguição aos primeiros cristãos. Ele foi denunciado pelo cínico filósofo Crescens e, como resultado, julgado num tribunal romano e considerado culpado por se recusar a adorar os deuses romanos e por desobediência ao imperador. Ele e seis de seus alunos foram decapitados.

Sobre o Anticristo, ele escreveu,

 “Aquele que está para falar coisas blasfemas e audaciosas, contra o Altíssimo, estando já às portas - cuja continuação Daniel significa como durar um tempo, tempos e meio tempo.”

 Aqui vemos Justino citando o livro de Daniel encontrado no Antigo Testamento. Ele descreve alguns dos atributos do Anticristo. Ele também menciona a duração de seu governo como sendo um “tempo, tempos e meio tempo”, o que significa 3 anos e meio, conforme declarado em vários outros lugares nas Escrituras. Justino continua,

 “Tolos são aqueles que não entendem o que de fato foi apontado por todos os testemunhos dos Profetas, que duas Vindas de Cristo são mencionadas; uma em que Ele é pregado como o sofredor inglório - desonrado e crucificado - a segunda em que Ele virá com a glória do céu, no tempo em que o Homem do Pecado, que fala grandes coisas contra o Altíssimo, estará na terra, e ousara coisas más contra nós, cristãos. ”

 Novamente, Justino fala das duas vindas do Messias. A primeira em que ia  ser crucificado como uma ovelha diante de seus tosquiadores, como um cordeiro para o matadouro como visto em Isaías 53 e nos Salmos e cumprida por Jesus de Nazaré em 30 DC. A sua segunda vinda será logo após o reinado do Anticristo, que Justino cita de Daniel capítulo sete e ou 2 Tessalonicenses como se fosse algo que ainda está para vir.

 Irineu

 A seguir, veremos Irineu que viveu de 130 a 202 DC. Irineu nasceu numa família cristã e se tornou discípulo de Policarpo, que era discípulo do Apóstolo João. Mais tarde, ele se tornou o bispo grego de Lyon, França, e escreveu mais sobre o assunto da profecia bíblica do que qualquer um de seus predecessores.

 “Irineu cita a maior parte de 2ª Tessalonicenses 2 a respeito do Homem do Pecado e aplica-a ao Anticristo - dizendo que o Templo em que ele se assentará é o Templo de Jerusalém - citando Mateus 24 quanto à abominação e a época inigualável da tribulação, e o relaciona com o tempo da blasfêmia do Anticristo em Jerusalém - falando de seu surgimento como o pequeno chifre após os dez últimos reis do Império Romano - e citando as palavras de Daniel - “tempo, tempos e a divisão dos tempos, ”Explicando-os como os três anos e meio do reinado do Anticristo”.

 Na citação acima, o apologista cristão Benjamin Wills Newton dos anos 1800 explica que Irineu claramente coloca a "abominação da desolação" como um evento futuro durante o reinado do Anticristo em Jerusalém.

 “Na metade do hebdomad (semana ou período de sete anos), diz Daniel, o sacrifício e a oferta de manjares serão retirados, e no Templo estará a Abominação da desolação - e até a consumação do tempo, uma consumação será designada sobre a desolação, - mas a metade do hebdomad (período de uma semana ou sete anos) é de três anos e seis meses. ”

 Na citação acima, Irineu está citando Daniel 9:27 que diz:

 “E ele firmará um concerto, com muitos por uma semana: e no meio da semana ele fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das  abominações virá o assolador, e isso até a consumação, e o que está determinado será  derramado sobre o assolador. "

 Sem passar por todos os detalhes do versículo, podemos ver que Irineu está pondo esse versículo no tempo do Anticristo no futuro e não num evento passado. A palavra “semana” ou “hebdomad” em grego ou “shabua” em hebraico refere-se a um período de sete anos, não a uma semana de sete dias. Daniel 9:27 menciona o “meio da semana” que Irineu entende apropriadamente como 3 anos e meio.

“Mas quando o Anticristo tiver devastado todas as coisas neste mundo, reinando três anos e seis meses, e se tiver sentado no Templo de Jerusalém, então o Senhor virá do céu nas nuvens na glória do Pai, para lançá-lo a ele e aqueles que lhe obedecem, para o lago de fogo. Mas Ele introduzirá para os justos os tempos do reino, isto é - o descanso: - o sétimo dia santificado; e restaurará a Abraão a promessa da herança, em cujo reino, diz o Senhor, muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão com Abraão, Isaque e Jacó. ”

Irineu conclui que o Anticristo reinará por 3 anos e meio e que pode ser encontrado em Daniel e no livro do Apocalipse. Da Epístola aos Tessalonicenses de Paulo, temos a ideia do Anticristo sentado no Templo. Do Evangelho de Mateus e do livro do Apocalipse, Irineu obtém a imagem de Jesus voltando nas nuvens do céu para lançar os ímpios no lago de fogo, após o qual começa o reinado de mil anos de paz na terra. A escatologia de Irineu é o que se encontra escrito na Bíblia.

A Epístola de Barnabé

Incluí a Epístola de Barnabé, embora não tenhamos certeza hoje de quem foi o Barnabé que a escreveu. A Epístola de Barnabé é considerada um dos livros apócrifos. Os livros apócrifos eram considerados uma boa leitura, mas não em paridade com os escritos que eram considerados Escrituras. Eles às vezes eram encontrados no final dos primeiros manuscritos do Novo Testamento. Os livros apócrifos do Antigo Testamento são encontrados entre as Escrituras reconhecidas do Antigo Testamento e o Novo Testamento. A Epístola de Barnabé fazia parte dos Apócrifos do Novo Testamento. 

Alguns dos primeiros crentes consideraram que o autor da epístola era aquele Barnabé que havia sido o primeiro companheiro do apóstolo Paulo e, portanto, considerado um apóstolo também. Estes colocam a escrita da epístola já em 70-80 DC. Outros, entretanto, dizem que a epístola foi escrita por outro Barnabé ainda em 132. Eusébio, o Bispo de Cesaréia em 314 DC, menciona a epístola em seus escritos dizendo que não foi incluída nos escritos aceites dos apóstolos. Foi considerado Apócrifo do Novo Testamento, ou seja, bom, mas não Escritura. Clemente de Alexandria e Orígenes também mencionam a Epístola de Barnabé e pareciam considerá-la autêntica, ou seja, escrita pelo companheiro de viagem de Paulo. Incluí a epístola porque era conhecida pelos primeiros Pais da Igreja e às vezes era incluída depois dos livros aceites do Novo Testamento em alguns dos primeiros manuscritos originais. Portanto, é autêntico, mas não sabemos se é do antigo Barnabus ou não.

“O período consumador de provas (a grande tribulação), como foi escrito, e como Daniel diz, se aproxima; pois o Senhor abreviou os tempos e os dias, a fim de que Seus amados se apressassem a receber a  Sua herança. Assim diz o profeta: Dez reinos reinarão sobre a terra, e depois deles surgirá um pequenino que subjugará três de uma vez ... Deste, Daniel diz novamente: E eu vi o quarto animal que veio do mar; e nele apareceram dez pontas, e apareceu outra ponta  pequena no meio delas, e derrubou três das pontas grandes. Portanto, devemos entender.”

Aqui vemos Barnabé citando com precisão Daniel 7: 24-25 e identificando os versículos como pertencentes ao Anticristo que ainda está por vir.

 “Em seis mil anos, todas as coisas estarão terminadas. E Ele descansou no sétimo dia; isto significa, quando Seu Filho vier e abolir o tempo do Maligno e julgar o ímpio, e mudar o sol, a lua e as estrelas; então Ele descansará gloriosamente no sétimo dia.”

 De acordo com a escatologia judaica, o mundo cobriria um período de 7.000 anos. Seis mil anos sob o governo do homem e mil anos sob o governo do Messias. Não temos nenhum versículo bíblico que confirme essa ideia, embora a Bíblia diga que o Senhor faria uma pequena obra na terra. O Apóstolo Pedro também diz “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia”. No Salmo de Moisés, lemos: “Mil anos à tua vista são como o dia que acaba de passar”. Visto que Deus fez o mundo e tudo que há nele em seis dias e depois descansou no sétimo, podemos ver de onde veio a ideia judaica da vinda do Messias para o último período de mil anos. Mas devemos dizer que parece ser uma especulação bíblica.

Tertuliano

A seguir, veremos Tertuliano que viveu de 155 a 225 D.C. Tertuliano foi um prolífico escritor cristão primitivo de Cartago, na África, de ascendência berbere e possivelmente filho de um centurião romano. Ele é chamado de Pai da teologia ocidental, pois foi o primeiro teólogo a escrever em latim. Ele também foi o primeiro a usar o termo "trindade". Ele se converteu por volta dos 40 anos e disse: “Os cristãos são feitos, não nascem”. Ele era casado com uma cristã. Ele argumentou o princípio da “suficiência das Escrituras” e que a teologia cristã não deveria ser dependente de qualquer filosofia acadêmica. Sobre o Anticristo, ele escreveu,

“Também no Apocalipse de João é estabelecido o curso dos tempos, durante os quais as almas dos mártires sob o altar, exigindo vingança e julgamento, são instruídas a esperar. Primeiro, a terra deve beber suas pragas das taças dos anjos; e a cidade prostituta deve sofrer destruição pelos dez reis, e a Besta Anticristo com seu falso profeta, fazer guerra contra a Igreja de Deus; e então o Diabo sendo banido por um período de tempo para o abismo sem fundo, o privilégio da primeira ressurreição será revogado, a sentença pertencente à ressurreição universal será pronunciada dos livros ”.

Na citação acima, Tertuliano primeiro cita Apocalipse 6: 9-11 sobre os mártires da fé tendo que esperar pela vingança contra seus inimigos. Em seguida, ele menciona as "pragas das taças dos anjos" que são especificamente da Ira de Deus encontrada em Apocalipse 16. Ele pula sobre as trombetas da tribulação dos capítulos 8-10 que mostram apenas 1/3 da destruição, e menciona como as  Taças de Ira mostram a  destruição completa. Em Apocalipse 17 e 18, ele fala da destruição do "sistema" da cidade prostituta. Ele também menciona a Besta Anticristo e o falso profeta de Apocalipse 13 e 19. Ele termina com sua compreensão dos eventos em Apocalipse 20. Tudo muito biblicamente apresentado, embora sem muitos detalhes.

A respeito das duas testemunhas de Apocalipse 11, ele disse o seguinte:

“Enoque e Elias são transladados; sua morte não foi encontrada, sendo adiada. No entanto, eles estão reservados para morrer, para que com seu sangue possam extinguir o Anticristo. ”

 Visto que nem Enoque nem Elias no Antigo Testamento morreram, mas foram ambos transladados para o céu, os primeiros cristãos passaram a acreditar que as duas testemunhas do capítulo 11 de Apocalipse que testemunham contra o sistema do Anticristo em Jerusalém por quase 3 anos e meio  serão ungidos com os espíritos de Enoque e Elias. Muitos estudiosos da Bíblia hoje acreditam que essa pode ser uma interpretação correta.

Hipólito

Nosso próximo Pai da Igreja é Hipólito, que viveu de 170 a 235 D.C. Hipólito foi um importante teólogo cristão dos séculos 2 a 3, cujo paradeiro é pouco conhecido. Alguns sugerem que ele pode ter se oposto à igreja de Roma que estava crescendo. Eusébio e Jerônimo confessam que não sabem dizer onde Hipólito serviu na liderança da igreja. Ele pode ter estado envolvido em igrejas domésticas romanas em conflito com o bispo de Roma. Durante a perseguição do imperador Maximino Thrax, ele foi exilado na Sardenha para trabalhar nas minas e, como resultado, morreu. O papa Fabiano (236-250 d.C.) trouxe seus restos mortais de volta a Roma para um enterro na igreja alguns anos depois.

Falando sobre a imagem de Daniel 2, ele escreveu:

“Depois deles vêm os romanos, sendo as pernas de ferro da Imagem - fortes como o ferro: para que se apontem as democracias que estão por surgir, respondendo respectivamente aos dez dedos da imagem, nos quais haverá ferro misturado com argila. ”

Mais uma vez, vemos que Hipólito coloca os dez dedos dos pés da imagem em Daniel 2 no futuro e prediz o surgimento das democracias representadas como barro na imagem.

Origenes

Orígenes de Alexandria, que viveu de 184 a 254 D.C., foi um dos primeiros apologistas mais importantes da fé cristã, especialmente do ramo oriental, conforme escreveu em grego. Ele foi o pioneiro na ideia de uma interpretação tripla das escrituras: a literal, a ética e a espiritual. A sua visão de que o Pai era mais Deus do que o Filho foi percebida como a raiz da heresia do Arianismo e ele foi condenado como herege. A heresia ariana considerava Jesus o primeiro ser criado e, portanto, de menor autoridade do que Deus e não igual a Deus.

No entanto, em referência a 2ª Tessalonicenses 2, ele escreveu,

“Explicar tudo isso não é o nosso negócio atual. Mas há em Daniel uma profecia sobre esse mesmo Anticristo, que não pode deixar de despertar a admiração de qualquer um que a ler com bom senso e franqueza. Pois ali, em palavras verdadeiramente divinas e proféticas, são descritos os reinos que estavam por vir, começando desde o tempo de Daniel até a destruição do mundo. E esta profecia pode ser lida por todos os homens. Agora veja se o Anticristo não é falado ali também com estas palavras, ‘No final de seu reinado, quando os prevaricadores chegarem ao máximo, se levantará um rei, feroz de cara, e sera entendido em adivinhações, e, etc .”

“E o que já citei das palavras de Paulo, que ele se assentará no Templo de Deus, mostrando-se que é Deus - isso também é dito por Daniel, e desta maneira, 'No Templo estará a abominação da desolação; e até o fim dos tempos, uma consumação será dada contra a desolação. '”

Orígenes está claramente citando Daniel 8 e 2 Tessalonicenses 2 e Daniel 9:27, todos em referência ao tempo do Anticristo como se fosse algum evento futuro. Ele está, portanto, colocando o cumprimento das palavras de Jesus em Mateus 24 no futuro sob o Anticristo.

Vitorino de Pettau

Não sabemos a data do nascimento de Vitorino de Pettau, mas ele foi morto em 304 D.C. Vitorino provavelmente nasceu na Grécia e, embora falasse grego, escreveu em latim. Ele era muito bem falado por Jerônimo e era o bispo de Pettau, localizado na atual Eslovênia. Ele viu a breve vinda de Cristo como um fio contínuo ao longo do livro do Apocalipse. Antes que chegasse o fim, escreveu ele, haveria guerras, fomes, pestes e perseguição aos cristãos. Vitorino foi martirizado durante as perseguições do imperador Diocleciano. Falando sobre o falso profeta em Apocalipse 13, ele disse:

“Ele fará com que uma imagem dourada do Anticristo seja colocada no Templo de Jerusalém; e que um anjo apóstata deve entrar nele; daí proferir vozes e oráculos. Ele também fará com que escravos e homens livres recebam como uma marca em suas testas ou em suas mãos direitas, o número de seu nome, para que de outra forma ninguém possa comprar ou vender. ”

Na seção acima, Vitorino especula sobre como a imagem de Apocalipse 13:15 falará e credita isso a um anjo demoníaco apóstata. Ele cita com precisão Apocalipse 13: 16-17 sobre a marca da besta.

Lactâncio

Lactâncio, que viveu de 240 a 320/325 D.C., foi um dos primeiros autores cristãos. Ele se tornou conselheiro do primeiro imperador romano cristão, Constantino I. Ele também ensinou o filho do imperador, Crispo, que tinha entre 10 e 15 anos nessa altura. A obra mais importante de Lactâncio foi "Os Institutos Divinos", uma apologética destinada a estabelecer a verdade e a razoabilidade do Cristianismo para seus críticos pagãos. Lactâncio era um norte-africano de língua latina de origem berbere e não nasceu numa família cristã. Ele não mostra muito conhecimento das Escrituras em seus escritos, mas era bom em retórica. Falando do Anticristo, ele escreveu,

“Ele ordenará que o fogo desça do Céu, e o sol pare em seu curso, e uma Imagem fale; e essas coisas devem ser feitas pelo seu comando. Por meio desses prodígios, o maior número, mesmo de homens sábios, será seduzido por ele. Então, ele tentará derrubar o Templo de Deus e perseguirá os justos; e haverá pressão e prova, como nunca houve desde o início do mundo. ”

Em Apocalipse 13:13, encontramos a citação de Lactâncio sobre "fogo para descer do céu", no entanto, o versículo está se referindo ao falso profeta e não ao Anticristo. Não há referência ao Anticristo ou ao falso profeta de ser capaz de parar o sol em seu curso. Novamente, é o falso profeta que tem o poder de fazer a imagem da besta falar. A sua referência ao "maior número até de homens sábios" sendo seduzidos, ou se refere a Daniel 11:35, que diz:

“E alguns dos entendidos cairão para serem provados,e purificados e embranquecidos.”

Ou ao aviso de Jesus no Evangelho de Mateus capítulo 24, que diz:

Mateus 24:24 “Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que se possível fora enganariam até os próprios eleitos.”

Lactancio continua,

“Todos os que crerem e o receberem (isto é, o Anticristo), serão marcados por ele, como tantas ovelhas: mas aqueles que rejeitarem a sua marca voarão para as montanhas ou serão presos e mortos ... .E será dado a ele para desolar o mundo por quarenta e dois meses (3 anos e meio). Este é o período em que a justiça será expulsa e a inocência detestada. Este é aquele que é chamado de Anticristo - mas ele fingirá ser o Cristo e lutará contra o verdadeiro Cristo. ”

A primeira seção sobre como receber a marca é de Apocalipse 13.

Apocalipse 13:16-18 “E ele fará com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita ou nas suas testas: e para que ninguém possa comprar ou vender, a não ser aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número o seu nome ... e seu número é seiscentos e sessenta e seis (666). ”

“Voar para as montanhas” parece estar se referindo ao Apocalipse 12, onde a Igreja, ou os cristãos crentes, fogem do Anticristo durante o período da Grande Tribulação. Vamos ler a Bíblia:

Apocalipse 12:14 “E para a mulher (a Igreja dos crentes cristãos) foram dadas duas asas de uma grande águia, para que ela pudesse voar para o deserto, para o seu lugar, onde ela é nutrida por um tempo, e tempos, e meio tempo, fora da vista da serpente. ”

Ou outra possibilidade é que Lactâncio está se referindo às palavras de Jesus no Evangelho de Mateus,

Mateus 24:16 “Então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes.”

Os quarenta e dois meses de Lactâncio vêm de Apocalipse 13, que diz:

Apocalipse 13:5 & 7 “E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para continuar por quarenta e dois meses ... E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, língua e nação.”

Em geral, podemos ver que os Pais da Igreja sabiam e ensinavam que a Segunda Vinda de Cristo seria precedida pelo período de perseguição sob o Anticristo. Eles citaram extensivamente Daniel, Mateus 24, 2ª Tessalonicenses 2 e Apocalipse para salientar o seu ponto. Eles olhavam para esses eventos como se estivessem no futuro, não como se tivessem sido realizados no passado.

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