Ele É Cristão

De Tommy Jacek

“Você tocou nela?”, os dois jogadores de futebol gritaram na minha direção.

A esta altura do jogo, quer eu tivesse tocado a bola quer não, era muito importante. Decidiria se seria um tiro de meta para nós, ou um corner para os nossos oponentes. O jogo estava quase terminando, mas o placar permanecia teimosamente num empate. Por isso os jogadores me olhavam com tanta ansiedade e antecipação. Minha resposta, como goleiro, poderia determinar a próxima jogada.

“Toquei,” admiti, meneando a cabeça.

“Por que você tinha que dizer?” um jogador novo no nosso time gritou para mim. Sua reação era típica de um jogador sob pressão e não me surpreendeu nem um pouco. O que aconteceu a seguir é que me surpreendeu.

“Ele é cristão,” veio a resposta simultaneamente de dois ou três outros jogadores em minha defesa.

“Não gosto disso,” murmurou o cara novo, mas era óbvio que ele havia ficado impressionado pela resposta dos outros.

Eu também fiquei impactado. Mal havia testemunhado para aqueles caras. Uns dois deles sabiam que eu era pastor, e alguns de vez em quando recebiam uma revista Contato,mas eu só havia testemunhado para valer para apenas um homem, e ele não estava mais comparecendo aos nossos jogos noturnos nas terças-feiras. O resto do pessoal aparecia bem na hora do jogo e ia embora assim que terminava. Eu mal tinha oportunidade de entrar em uma conversa profunda com eles.

Por isso suas fortes convicções sobre as minhas crenças me surpreenderam.

Outra situação semelhante me aconteceu antes. Faz um tempo, o único homem no nosso time de futebol para quem eu havia testemunhado profundamente gritou para mim desde longe, depois de eu ter admitido que havia tocado a bola antes dela sair do campo. “Tommy, isso não é uma igreja; é uma partida de futebol!” Não preciso nem dizer que todos deram uma boa gargalhada.

Por que estou escrevendo sobre isso e por que é importante para mim? Porque me encoraja imensamente.

Sabe, eu testemunho pessoalmente muito menos do que costumava fazer. Sinto falta disso e me sinto mal por isso. É quase como se parte de meu coração tivesse sido cortado de mim. Afinal de contas, falar para as pessoas de Jesus era a principal razão da minha existência, assim pensava eu. Às vezes tinha que lutar contra condenação de que talvez não estava fazendo o meu trabalho devidamente.

Contudo, bem ali, sem ninguém pedir e vindo da boca de outros, ouvi: “Ele é cristão.” -- Quando eu menos esperava e das pessoas de quem eu menos esperava ouvir isso.

Acabou que eu estava sendo uma testemunha, simplesmente por tentar seguir o Senhor. O Senhor queria que eu fosse honesto (como deveria sempre ser) com relação a ter tocado a bola. Simples assim. Eu só tinha que dizer a verdade, e Jesus cuidou do resto. Eu nem mesmo precisava ser um milagre ostentoso para atrair a atenção, como no caso dos cinco pães e dois peixes. Uma palavrinha apenas era suficiente.

Tinha algo mais sobre a situação também que era tanto contraditória como sóbria.

A maioria dos jogadores com quem eu jogo se diziam cristãos, contudo tinham um padrão diferente para mim por eu ser missionário. O mais engraçado é que eles não viam nenhuma contradição nisto.

Para eles, não tinha problema eles contarem uma “mentirinha boba” em um jogo de futebol. Por outro lado, se eu fizesse isso, seria errado. Visto que eu professava ser um missionário, era esperado que eu permanecesse no caminho estreito e apertado, não importa o que.

Dou graças a Deus por me dar a graça para fazer justo isto.

Tradução Denise Oliveira. Revisão Hebe Rondon Flandoli.