“Este foi o nome que ela deu ao Senhor que lhe havia falado: ‘Tu és o Deus que me vê’, pois dissera: ‘Teria eu visto Aquele que me vê?’.”[1]
Podemos vivenciar alguns momentos em que nos sentimos aparentemente esquecidos neste mundo, mas um consolo é a certeza de que temos um Deus que nos vê.
É o que acontece na história de Hagar, no Antigo Testamento—uma mulher exilada do seu país que foi trabalhar como serva. Em sua aflição, ela fugiu da casa de Abraão e Sara, onde seu corpo foi usado como substituto para conceber um filho para eles.
As Escrituras nos dizem que, quando Agar achou que não havia mais nada de bom neste mundo para ela, um anjo do Senhor foi ao seu encontro perto de um poço no deserto e a consolou. Disse-lhe então o Anjo do Senhor: “Volte à sua senhora e sujeite-se a ela ... Multiplicarei tanto os seus descendentes que ninguém os poderá contar.”[2]
Deus vê o nosso mundo secreto e entende que todos temos uma necessidade fundamental de sermos vistos e reconhecidos. Como Agar, se olharmos com os olhos da fé, encontraremos um Deus que nos vê a cada segundo de cada dia. Deus cuida da Sua criação, e saber que somos velados pelo olhar amoroso do nosso Pai celestial pode realmente mudar a nossa perspectiva. Todos nós precisamos de um lembrete gentil de que Deus nos vê.
É por isso que o poço onde Agar teve um encontro com o anjo entre Cades e Berede é chamado de “Lahai Roi”, que significa “poço do Vivente que me vê”. Qualquer nome que escolhermos para Deus revela tanto sobre nossas necessidades quanto sobre o caráter de Deus. É por meio da nossa necessidade que vivenciamos Deus da maneira mais profunda. Foi o que Agar descobriu no deserto: Deus me vê. Ele sabe o meu nome. Ele sabe quem eu sou. Ali, Agar encontrou um Deus íntimo e pessoal que tem compaixão dela.
Nós não estamos sozinhos nos problemas que enfrentamos, mesmo que seja na noite mais escura da nossa alma. Como Agar, podemos encontrar consolo e descanso, porque temos um Deus que nos vê.—Brett McBride
O que Agar me ensinou
Eu sabia por cima quem era Agar, por causa das diversas Bíblias ilustradas que li quando criança. Mas este ano, depois de decidir ler a Bíblia de cabo a rabo, essa história me deu novas perspectivas sobre o amor individualizado de Deus por cada um de nós.
Agar era uma serva egípcia de Sara, esposa de Abraão. Ela aparece pela primeira vez como uma personagem secundária na história de Abraão e nas alianças de Deus com ele. Deus havia prometido a Abraão uma descendência tão incontável quanto as estrelas, mas Sara—que ainda não engravidara e estava ficando impaciente com o não cumprimento da promessa de Deus—pede a Abraão que se deite com Agar, sua serva.
Abraão concorda, e Agar logo engravida. Ao descobrir isso, talvez tenha começado a achar que as coisas estavam melhorando para ela. Talvez esperasse que aquilo a definiria no meio de um povo estranho. Talvez tenha começado a se gabar, pois a Bíblia nos diz que ela então “começou a olhar com desprezo para a sua senhora.”[3]
Sara se queixa para Abraão, que então lhe diz que Agar está em suas mãos, e que deve fazer com ela o que achar melhor. O que quer que Sara tenha decidido fazer foi suficiente para fazer Agar, grávida, fugir para o deserto, onde a encontraremos em seguida sentada perto de uma fonte, saciando sua sede.[4]
Esta é a parte da história que eu amo: Deus envia um anjo ao encontro da “fugitiva”, e este a convence a voltar para o acampamento de Abraão. Esta moça provavelmente sentia que não valia nada para ninguém; provavelmente se sentia indesejada e não amada; uma moça com seu ego e seus defeitos e suas falhas; uma moça egípcia e não hebreia, que talvez ainda se apegasse às suas tradições anteriores e acreditava nos deuses egípcios; essa moça que desprezava sua senhora e que não merecia misericórdia; essa moça que sem dúvida ainda agirá da maneira errada outras vezes no futuro.
É aqui no deserto—em meio a seu pecado e desespero—que Deus aparece para Agar, porque sob as camadas de circunstâncias, decisões, falhas e erros, bate o coração da criação a quem Deus deu o fôlego. E é isso o que Deus vê e vai resgatar quando Ele envia um anjo ao encontro dessa moça cuja existência começou em Sua imaginação e cuja história de vida Ele havia registrado em Seu livro.
Aquele encontro com um anjo naquele lugar deserto é o suficiente para encorajar Agar a voltar para casa. Mas antes disso ela deu um nome a esse Deus que a procurou e falou com ela. Ela o chamou de “o Deus que me vê”.[5]
Todos nós passamos por momentos em que nos sentimos indignos de ser vistos por Deus. Mas o que muda o seu modo de ser é quando você se sente totalmente desmerecedor de amor, e mesmo assim Deus faz algo por você e diz que você ainda é digno. E foi o que Deus fez por Agar naquele dia. Ele lhe mostrou que Se importava com ela, que estava cuidando dela e que tinha um plano para a sua vida. Esse é o poder de ser visto por Deus. Foi esse poder que deu a Agar a força interior para retornar a uma situação que alguns dias antes ela achava insuportável.
Há muito que gosto nessa história, mas aqui estão três pontos principais:
Primeiro, não há personagens secundários para Deus. Talvez a narrativa bíblica tenha encaixado a história de Agar para ser narrada em um ou dois capítulos e a coloca mais como coadjuvante na história principal que é a vida de Abraão e Sara. Mas Deus tinha um livro com o nome dela no qual ela era a protagonista da história da sua vida. E isso é verdade para todos que se sentem como um personagem secundário na história de outra pessoa.
Em segundo lugar, Deus conhece os piores e mais deprimentes momentos da sua vida, mas ainda assim acredita em você. Saber disso inspirou em Agar força suficiente para voltar à situação difícil em que Deus a colocara. Onde quer que você esteja agora, qualquer que seja o seu estado espiritual ou físico, você tem um Deus que o vê e acredita em você.
Terceiro, adoro o fato de Deus ter ido ao encontro de Agar quando ela fugiu. Deus vê exatamente onde você está emocional e fisicamente—geograficamente também—e não há nada que possa separar você do Seu amor. Ele irá atrás de você, o encontrará e o colocará em pé de novo.
A história de Agar é relevante para nós hoje. Qualquer que seja a sua situação no momento, não importa como se sinta, você tem um Deus que o vê, e nada neste mundo—nem mesmo suas falhas—pode separá-lo desse tipo de Deus. Como Paulo disse: “Estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.”[6]—Roald Watterson
Deus conhece o seu nome
Toda vez que Sara ou Abraão mencionavam Agar em suas conversas, referiam-se a ela simplesmente como “minha serva” ou “sua serva”.[7] ... Imagino que era bastante desmoralizador para Agar.
Mas quando Deus encontrou Agar no poço, a primeira palavra que saiu de Sua boca foi “Agar”.[8] Até este ponto na narrativa, nem somos informados se Agar sabia quem era Deus, mas Ele certamente sabia quem ela era. Na verdade, Ele sabia o nome dela e mostrou-lhe respeito ao chamá-la pelo seu nome.
É o mesmo com você. Deus sabe o seu nome. Você é o Seu filho precioso e Ele conhece cada uma das “ovelhas” pelo nome.[9] E, além de saber o seu nome, ele também está “gravado” na palma das Suas mãos.[10] Estar gravado tem um significado mais profundo do que estar escrito, pois gravar implica estar “talhado, esculpido”, na palma das mãos de cada cantinho da nossa pessoa. Ele nos conhece melhor do que nós mesmos. E Ele também conhece o sofrimento em um nível pessoal intenso. ... Ele nos encontra em nosso estado abatido e derrama graça sobre nós.”
Adoro o fato de Laai Roi [Deus] ter procurado Agar. Ele a procurou e chegou no seu momento de maior necessidade. Naquela ocasião, era para certificar de que ela foi vista, era amada e não esquecida, que ela e o filho que carregava no ventre (um filho a quem Deus pessoalmente deu nome, uma outra bênção especial que Deus mostrou a Agar) seriam cuidados.
Deus, o “Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação”,[11] aliviou Agar de suas preocupações e socorreu o seu coração ferido e cansado. Assim como aconteceu com Agar, Deus também promete que “nunca o deixará e nunca o abandonará”.[12] É nos seus momentos de maior necessidade que Ele derrama a Sua graça e misericórdia sobre você.[13]
Ele vê exatamente o que você está passando, pois, como disse Agar: “Você é [Laai Roi] um Deus que vê. Verdadeiramente, aqui eu vi Aquele que me vê”.[14]—Denise Kohlmeyer[15]
Publicado no Âncora em junho de 2021. https://anchor.tfionline.com/pt/post/o-deus-que-me-ve/
[1] Gênesis 16:13.
[2] Gênesis 16:9–10.
[3] Gênesis 16:3–4.
[4] Gênesis 16:5–7.
[5] Gênesis 16:13.
[6] Romanos 8:38–39.
[7] Gênesis 16:2, 5–6.
[8] Gênesis 16:8.
[9] João 10:3.
[10] Isaías 49:16.
[11] 2 Coríntios 1:3.
[12] Deuteronômio 31:6.
[13] Hebreus 4:14–16.
[14] Gênesis 16:13.
[15] https://unlockingthebible.org/2019/08/hagar-el-roi-god-sees.
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